terça-feira, outubro 12, 2010

Casamento católico com qualquer corporação.

Já tentou se desconectar de uma companhia de internet, telefone, ou qualquer outra grande corporação que cobra automaticamente do seu cartão de crédito?



(video produzido por mim online com ferramentas online. Spielberg, te cuida, mano!)

sábado, setembro 25, 2010

PaparapapaPARA TUDO!

Você já foi num baile fanque? Eu já. Ontem. É bem verdade que tocou axé miusique antes. Mas depois teve baile fanque. É também bem verdade que antes tocou uma salsa colombiana. Mas depois virou baile fanque.

Juro!

Também não é mentira que tava tocando antes pagode - dos ruins: aqueles mix eletrônicos, e que tinha gente dançando aquilo como se fosse salsa. Mas depois, palavra de honra, teve fanque. É verdade que não foi no Andaraí, nem no Belford Roxo, nem num morro da zona norte do Rio de Janeiro. Foi no sul de Tel-Aviv, onde a única camiseta do Flamengo que eu vi era falsificada a ponto de nem ter o símbolo do CRF na frente. Mas era vermelha e preta, com um número 10 branco nas costas. E o dono da respectiva cantava os fanques junto com o MC.

Ah, é. Eu já ia chegar lá. Teve aquelas dancinhas de carnaval baiano, umas até bem velhas, mas depois veio o MC e com ele teve fanque.

E ele fancou em português e, quem diria, em hebraico também! Você já tinha ouvido fanque em hebraico? Pois eu nunca tive essa chance. Até ontem, quando o hino do Flamengo se misturou com uma retórica quase pornográfica sobre o arsenal do tráfico carioca e uma colocação ou outra sobre o Senhor Bom Deus, em hebraico e em português.

Eu pessoalmente não vejo muito problema em o Divino ser exaltado ao lado de AK-47 M-16, Glock, AR-15 e o Mengão. Já o Próprio, acho que não deve gostar muito.

Se gostou ou não, a única manifestação da ira do Divino que eu presenciei foi a temperatura da cerveja.

Pois é: Fanque carioca original já tem em Israel. Cerveja gelada que é bom, nem Deus consegue.

domingo, agosto 22, 2010

Enroladus Lex, sed lex!

De um documento do juiz do Juizado especial de Curitiba que minha irmã trouxe:

"No caso em disceptação, ressumbrados os argumentos inseridos na peça limiar e em gavinha com a documentação que a ilustre, o beneplácito colimado nesta ensancha merece o tugúrio da lei, pois a peça limiar pode ser aceita como prova inequívoca exigida pelo artigo alhures invocado, demonstrando que a reclamada maliciosamente e em flagrante descompasso com o que prevê a legislação em vigor [...]"

"Na controvérsia em realce, neste ensejo de cognição absolutamente sumária, dealba pelas assertivas da autora e pelos documentos colacionados nos autos [...]"

quarta-feira, agosto 18, 2010

Meu sobrinho sabe Photoshop

Digamos que o diretor de uma enorme montadora de aviões precise de um novo modelo de turbina. Para desenvolver o projeto, ele cria um concurso online e dá um prêmio em dinheiro para a turbina vencedora. Aí ele escolhe entre os projetos enviados e faz a tal da turbina.

Você voaria num avião desenhado desta maneira? Nem eu. E é por isso que não existem concursos deste naipe pelo mundo afora.

No entanto, parece que com desenho industrial e desenho gráfico a coisa é diferente: não é necessário encontrar um profissional da área, não é necessário este profissional compreender o projeto a fundo, nem sequer usar ferramentas sérias. Basta abrir um concurso com prêmio em dinheiro (que normalmente é bem abaixo dos reais custos do projeto) e afirmar por aí que o verdadeiro prêmio para o vencedor é receber o devido crédito - que teoricamente vai catapultar a carreira do dito designer para as alturas.

Li hoje a matéria do caderno Link do Estadão em que Guy Kawasaki explica (orgulhoso) que é exatamente assim que vai fazer a capa do seu próximo livro.

“Pelo método tradicional, a minha editora contrataria uma empresa, que me apresentaria seis ou sete opções de capa, e eu escolheria uma. No CrowdSpring, tenho 4 mil opções”, disse Kawasaki ao Link.
“Mesmo que alguns designers critiquem essa prática, alegando os outros 3.999 designers que perderem a competição terão desperdiçado sua força de trabalho, eu por acaso discordo dessa visão. Eu adoraria, por exemplo, que um jovem, recém-formado designer brasileiro, ganhasse o prêmio. Daria a ele a visibilidade necessária para lançar sua carreira.”

É óbvio que ele discorda dessa visão! Vai estar pagando 1000 dólares por algo de 5 a 10 horas vezes 4000 designers. Façam as contas.

"Ah!" ele afirma "mas o felizardo vai ter visibilidade necessária para lançar sua carreira". Para isso a resposta é um NÃO bem redondo. Essa é uma premissa que existe na cabeça especialmente de quem não conhece o ramo. Não é um trabalho que vai lançar um designer - por mais que seja isso que ele (o jovem designer) espere que vai acontecer. É necessário bastante visibilidade sim. Mas é algo que se constrói ao longo de uma carreira. Faz parte da própria carreira.

Vamos fingir então que todos os designers que mandaram seus trabalhos sejam igualmente competentes. Neste caso, a chance de cada um ganhar o prêmio é de 1/4000. Se o valor é de 1000 dólares, isso significa que trata-se de um investimento cujo retorno deve ser de 25 centavos em média. Se o trabalho em geral neste tipo de concurso é algo entre 5 e 10 horas (tomemos 7.5 como referência), cada designer estará trabalhando para ganhar 3 centavos por hora. Para valer à pena, a tal "visibilidade" que o tal internético promete em sua entrevista, deve valer muito.

Ele também acha lindo maravilhoso que terá 4000 diferente modelos de capas para escolher. Desenho industrial e desenho gráfico significa, acima de tudo, tomar decisões. Se ele tiver que escolher entre 4000 trabalhos, na verdade, seria melhor que jogasse aleatoriamente imagens em sua tela e escolhesse uma delas do que pagar 1000 dólares pelo concurso. Ou, poderia contratar um designer gráfico competente para escolher um dos 4000 trabalhos. O que seria bastante contraproducente, já que toda a idéia é não contratar um designer.

Agora, ele poderia fazer como vários quase-clientes meus, logo que recebem meu orçamento: "Ah! Tenho um sobrinho que sabe Photoshop, vou dar para ele fazer" - o que é o equivalente, no caso da turbina: "Ah! Tenho um sobrinho que sabe Autocad, vou dar para ele fazer"

É que as pessoas acham que design é apenas estética e uso de computador para desenhar. Comunicação visual não existe. Mensagem subliminar, linguagem gráfica, nada disso existe.

Ninguém fica achando que desenhar uma turbina exige apenas conhecimento de solda de alumínio e um programa de CAD.

Fazer a capa de um livro exige conhecer o mercado do livro específico, entender a mensagem do livro, absorver os interesses editoriais tanto da editora quanto do autor, compreender a linguagem gráfica de livros análogos e afins. No final das contas, depois de MUITO trabalho, vai-se ao computador (ou às vezes à prancheta mesmo).

E depois, você ainda pode ganhar um milhão de dólares se o cliente não vier pedindo alterações nas cores ou nas linhas, baseado apenas em sua opinião e gosto pessoal.

Eu nunca vi o dono de uma empresa dizer para um engenheiro que a turbina precisa ter uma outra curva, ou ter um compressor com menos pás, porque era assim que ele imagina que as coisas devam ser.

terça-feira, agosto 03, 2010

E quando voce menos espera: nada de novo - Antissemitismo Internético

Passo aqui o link para uma matéria assinada pelo meu amigo Gabriel Toueg no site do Terra, sobre os pais de Gilad Shalit. Chamo a atenção, no entanto, para a caixa de comentários que, no Terra, ao contrário de outros portais, não é moderada.

Entrem, dêem uma olhada e concluam tudo que vocês quiserem por conta própria. Eu não vou me dignar a adicionar adjetivos ou colocações, por desnecessário e dolorido.

Mas advirto aos incautos: é conteúdo extremamente chocante.

sexta-feira, julho 30, 2010

Seja Ars, Seja Feliz!

(Por favor, para entrar no clima do post, clique play no vídeo abaixo antes de seguir lendo. Obrigado)




Ah! Os Arsim. Tanto de Israel cantado em versos e prosa, exaltado pela cultura popular e erudita e tão pouco é dito sobre este ícone da personalidade israelense: o Ars.

Sociólogos se perguntam se o Ars é um subproduto da sociedade ou sua razão de ser - como se fizesse qualquer diferença decidir o que veio antes; o ovo ou a galinha.

Existem basicamente dois tipos de Arsim. Há o Ars que nega sua condição de Ars, e o que a exalta. O primeiro tipo vai usar as roupas mais caras de que já ouviu falar. Mesmo que uma coisa não combine muito com a outra. É um quase metrosexual, mas provavelmente cuida tanto dos cabelos do peito quanto os da cabeça, deixando todos devidamente visíveis (e oxigenados). O Ars de negação vai ouvir musica oriental bregamusic, mas só as que estão no main-stream. Ele provavelmente tem família em Rishon-Le'Tzion, mas faz questão de morar em Tel-Aviv. Tem uma namorada "séria", mas faz questão de ser conhecido como grande comedor.

Já o Ars que se exalta é o contrário: provavelmente está comendo várias, mas tanto ele quanto as ditas preferem negar a situação. Ele tem um vocabulário próprio que, por algum motivo fisiológico, não pode ser proferido abaixo de 160 decibéis (é curioso observar que, quando nervoso - isto é, 95% do tempo, este tipo de Ars justamente fala baixo e com pretensa calma). Na comunicação, este tipo de Ars fica completamente mudo se não puder usar o corpo inteiro (especialmente as mãos) para dizer o que quer. Veste-se de maneira casual com uma camiseta regata e calça velha. Nos velhos, a calça deixa aparecer o cofrinho. Nos jovens, deixa aparecer a cueca - que aliás, é o que usam na praia.

Ambos tem o mesmo gosto culinário: comida da mãe, shawarma e faláfel. A diferença está no método de comer sementinhas de girassol. Um joga tudo empilhado no chão mesmo numa bonita montanha. O outro espalha as sementinhas por um espaço mais amplo.

Posicionamento político: conservador. Posicionamento religioso: conservador. Posicionamento social sexual: depende. Na verdade, são ambos bastiões do machismo conservador, mas o primeiro tipo, o Ars de negação, vai dizer que é liberal prá caramba, e vai explicar que os grilhões que põe na mulher na frente do tanque é pelo bem dela, para não se perder pela casa.


Moshik Afia; Exemplo de Ars exaltado travestido de Ars discreto


Nos últimos anos, imitando o movimento Black-Power dos EUA nos anos 70, quando o slogan era "Black is Beutiful", entrou na moda em Israel o "Ars is cool". Não que não fosse fato conhecido tanto do povo quanto dos meios acadêmicos que, um pouco de Ars, quase todo israelense tem. Ser Ars agora está na moda. É in, é fashion. E daí vem agora esse povo que põem humus em tudo que é comida festejar sua Arsitute colocando neon roxo debaixo do carro (o Arsmobile), pendurando uma Hamsa no espelho, ouvindo Shlomi Saranga (do vídeo lá de cima) no máximo volume e - não só achar que está abafando, mas efetivamente estar.


Estudo científico de campo sobre os Arsim.

sábado, junho 05, 2010

Um barco cheio de retóricas - uma caixa de comentários cheia de ódio.

Um dos motivos pelos quais não haverá paz, nem sequer acordo entre Israel e palestinos nem em breve, nem a médio prazo é por causa da retórica da população. E a população aqui inclui israelenses, inclui palestinos e, principalmente, mais que qualquer um, cidadãos do resto do mundo.

Explico antes a importância da retórica israelense: Algo como dois dias depois do ataque vejo pipocando pelo país manifestações de apoio ao exército e aos soldados que participaram da ação. E aí pensei "bingo. Ponto pro Bibi".

O motivo é o seguinte: O exército vai ter sempre o incondicional apoio da população. Moral dos soldados é assunto sagrado em Israel, sem falar de que os soldados não são um grupo a parte, os soldados são a população. Quase todos fazem exército (mulheres inclusive), o que significa que os pais tem filhos e filhas no exercito e fazem serviço de reserva. O ponto que eu dou para o Nataniahu aqui é, portanto, porque ele conseguiu desviar o foco do verdadeiro problema. E o pior é que parece que muito pouca gente reparou nisso.

Sair pela imprensa afora gritando "O mundo está contra nós", como tem feito o governo de Israel hoje (e mais metade da população aqui) é não só uma verdade auto-realizável (afinal esse tipo de atitude realmente gera ódio internacional), como também é um processo político útil em vários níveis. É útil porque aumenta a moral do povo e do exército para a continuação do conflito, e não sua resolução. É útil porque justifica situações injustificáveis - como o bloqueio de Gaza. E, principalmente, porque uma situação de pressão externa desvia o foco de atenção da população.

Eu tive certeza de que logo após o desastroso ataque veríamos pelo país manifestações exigindo a cabeça do governo e do Nataniahu em particular, pela total e completa incompetência em resolver o problema. A imprensa tentou fazer o papel dela e chamou atenção para a péssima inteligência por detrás do ataque (se o Barak sabia, como afirmou depois, que havia no navio jihadistas querendo ser mártires prontos para briga, por que o ataque foi tão mal planejado? E se não sabia, como não sabia de um "detalhe" tão importante?). Chamou atenção para a péssima Hasbarah depois do ataque. Enfim, mostrou como o governo, mais uma vez, foi de suprema incompetência em lidar com assuntos tão importantes. E eu, na minha mísera inocência, achei que o povo iria às ruas para exigir respostas. Exigir uma mudança na organização política.

E eis que os governistas organizam manifestações de apoio ao exército, que na verdade nem precisa de manifestações de apoio, e que tiram toda a corrente de falhas do foco da discussão. Discussão essa que voltou a ser: "O mundo nos odeia, temos que nos defender".

Complicando ainda mais a situação, gerou-se uma dualidade falsa que faz de mim e outros que pensam como eu verdadeiros párias da direita e da esquerda de uma só vez. Houve sim protestos na noite seguinte ao ataque. Só que eram protestos contra o exército e contra os soldados. E esses, realmente fizeram um bom trabalho dadas as circunstâncias. Exércitos, por definição não tem ideologia ou alinhamento político. São, quando muito, o braço armado do governo. E eu queria era protestar contra o governo. A esquerda então me vê com olhos tortos, achando que eu sou a favor do cerco a Gaza e um direitista enrustido. Já as manifestações a favor do exército, eu me recusei a participar. Não ia participar desta farsa para desviar a atenção aos verdadeiros problemas: portanto me tornei um esquerdista.

Ou seja: hoje em Israel há, mesmo dentro da população, muito pouco lugar para diálogo e o saudável uso das faculdades mentais.


Quanto à retórica do Hamás/Palestina/Turquia: Meu pai já dizia que não basta ter razão, é preciso saber ter razão. E este é um exemplo maravilhoso de quem conseguiu estragar sua posição não sabendo ter razão. Furar o bloqueio de Gaza é um movimento político tão poderoso que juntou gente do mundo todo para o mar. Fazer Israel parecer mal na fita é um movimento político tão poderoso que juntou à gente do mundo todo um tiquinho de malícia jihadista suicida também. O erro foi tentar manter os dois grupos (que tinham objetivos bem diferentes) no mesmo barco. O plano de um (fazer pressão política para que Israel abra o bloqueio) acabou afetando o plano de outro (fazer Israel parecer mal na fita quando soldados da Shaietet 13 quase foram sequestrados à bordo do barco). E o outro acabou afetando às boas intenções do primeiro.

Para a alegria dos jihadistas, o primeiro objetivo não tinha a menor importância, assim que tiveram, ao seu ver, sua missão cumprida. Israel saiu bem mal na fita (ainda pior do que eles tinham imaginado antes), o premier turco ganhou uns 200 pontos políticos com sua população cada vez mais extremista e o IHH ganhou mais e mais adeptos pelo mundo. Tudo, claro, às custas do conflito entre palestinos e israelenses, mas sem fazer avançar o conflito para uma solução em um único milímetro (e talvez muito pelo contrário - aumentando o ódio e estendendo a guerra um pouco mais).


Quanto à retórica do resto do mundo, a situação se empobrece em praticamente todos os âmbitos. O movimento mundial contra Israel se fortaleceu. Infelizmente não na direção correta. Manifestações em São Paulo comparando Israel aos nazistas (por gente que não sabe o que foi o nazismo e não conhece Israel), gente escrevendo na Internet tantos clichês que às vezes sinto que simplesmente não há limite plausível para a ignorância humana. Leio no Twitter deputados federais com linhas de raciocínio tão racistas quanto Pol-Pot, sendo interpelados em seus textos por gente que consegue ser mais racista ainda. (Já li frases que começavam com um "até tenho uns amigos judeus...").

A crítica não é à ação em si. A critica não é ao bloqueio de Gaza, e a critica sequer é quanto ao conflito com os palestinos. A crítica se torna sobre a existência de Israel. E, neste caso, só torna Israel mais belicoso e rancoroso ainda. E, novamente, traz o conflito para situações ainda piores, ao invés de melhorar a situação.

A triste situação é a de que radicais irracionais tanto fora quanto dentro de Israel são os responsáveis pela atual existência em Israel e na Palestina de um governo tão, mas tão incompetente. E o círculo só alimenta a si mesmo.

domingo, fevereiro 21, 2010

Se você é um esquerdista, digite um. Se é um direitista, digite dois.

- Você ligou para TeleReclamação. Para reclamações sobre o clima, digite um. Para reclamar sobre sua situação econômica, digite dois. Para uma reclamação sobre o governo, digite três. Para reclamações gerais, digite quatro. Para o operador, digite nove, ou aguarde na linha.

- Você digitou três, reclamações sobre o governo.

- Se você é um esquerdista, digite um. Se é um direitista, digite dois. Para o operador, digite nove.

- Você digitou nove. No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.

La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento — e di pensiero.
Sempre un amabile,
Leggiadro viso,

- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.

In pianto o in riso, — è menzognero.
È sempre misero
Chi a lei s'affida,
Chi le confida — mal cauto il cuore!
Pur mai non sentesi
Felice appieno
Chi su quel seno — non liba amore!

- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua...

- Telereclamação boa tarde, quem está falando é Júlia, em que posso ajudar?

- Oi, Júlia. Eu digitei três, para reclamar sobre o governo...

- Sim?

- Pois é, daí o sistema me deu opção de escolher entre direita e esquerda. Acontece que eu não me considero nem esquerdista nem direitista, então decidi falar com o operador. O caso é que...

- Desculpe, senhor. O senhor acaba de colocar uma reclamação sobre o sistema, isto é correto?

- Sim, é, mas não vem ao caso. O que eu queria reclamar mesmo é que...

- Desculpe-me novamente senhor. Mas para reclamações sobre o sistema o senhor deveria dirigir-se para "Reclamações em geral". Por favor, aguarde um instante que eu vou transferir sua ligação.

- Não! Espere!

- Obrigada, tenha um bom dia!

La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento — e di pensiero.

- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.

Sempre un amabile,
Leggiadro viso,
In pianto o in riso, — è menzognero.
È sempre misero
Chi a lei s'affida,

- Telereclamação boa tarde, quem está falando é Daniela, em que posso ajudar?

- Ola, Daniela. Eu na verdade queria fazer uma reclamação sobre política. Só que daí o sistema de vocês só está programado para aceitar resposta se eu sou de esquerda ou se eu sou de direita. Acontece que eu não sou nem uma coisa nem outra.

- Entendo, senhor. O senhor gostaria de fazer uma reclamação a respeito disso?

- Também. Mas o fato foi que eu liguei para fazer uma reclamação sobre política e...

- Sinto muito, senhor, mas aqui é o terminal de reclamações gerais. Aguarde um instante que eu vou transferir sua chamada.

- Mas...!

- Obrigado, e tenha um bom dia.

La donna è mobile
Qual piuma al vento,
Muta d'accento — e di pensiero.
Sempre un amabile,

- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.

Leggiadro viso,
In pianto o in riso, — è menzognero.
È sempre misero
Chi a lei s'affida,
Chi le confida — mal cauto il cuore!
Pur mai non sentesi

- No momento todos os...

- Telereclamação boa tarde, quem está falando é Júlia, em que posso ajudar?

- Olá, Júlia. Eu tenho uma reclamação política para fazer.

- Sim? O senhor é de esquerda ou de direita?

- Eu sou coisa nenhuma. Aliás, essa história de tentar enquadrar todo mundo dentro de um modelo em um espectro unidimensional de esquerda e direita já está para lá de passado. E é por isso que eu gostaria de reclamar de...

- Desculpe senhor, mas o senhor só pode fazer uma reclamação a cada ligação. A não ser que o senhor seja cliente preferencial. O senhor é cliente preferencial?

- Mas eu ainda nem comecei!

- Desculpe, senhor, mas o que eu acabei de ouvir foi uma clara reclamação de cunho político mostrando insatisfação de sua parte do raso modelo de classificação política por parte dos programadores do terminal da nossa empresa. É isso, senhor, ou eu entendi errado?

- Ehn, sim. Quero dizer, não! Oras, eu liguei para reclamar de um assunto de extrema importância e simplesmente não consigo passar pela pergunta se sou esquerda ou direita! O que eu queria mesmo reclamar é do...

- Senhor, por favor. Essa foi a segunda reclamação feita em uma única chamada. Se o senhor é um cliente preferencial, por favor, digite...

- Mas eu ainda nem comecei!

- Senhor, por favor, não há motivo para levantar a voz. O senhor reclamou da qualidade dos nossos serviços. É a segunda reclamação, mas esta não é política, portanto eu vou transferir-la para outro terminal.

- Não! Aquela bosta de musiquinha não!

- Esta é sua terceira reclamação...

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Entre os Crentes e os Cínicos

A realidade só é mesmo digesta para aqueles que são cínicos ou para aqueles que são crédulos.

A frase original não é minha e eu não me lembro quando a li, nem de quem ela é nem sua forma original. Adapto-a às minhas próprias necessidades.

A frase é especialmente verdadeira no caso de Israel. E é mais válida ainda nos dias de hoje. Tenho reparado que, simplificando um monte, o povo se divide em esquerda e direita. Quando o governo é de esquerda, o povo de esquerda se torna crédulo, o povo de direita se torna cínico. Agora, quando o governo é de direita, o povo da direita se torna crédulo, e o povo esquerdista se torna cínico.

Alguns (como este que vos escreve) seguem cínicos haja este ou outro governo . Mas acho que nunca vi ninguém que siga crédulo por vários governos seguidos.

Vamos usar como exemplo, para tentar simplificar as coisas, o atual governo.

Para quem ainda não reparou, o atual governo, liderado por Biniamin Nataniahu, é de direita. Não uma direitinha qualquer, mas uma mega direita, uma coalizão com ultra-nacionalistas de um lado, ultra-religiosos de outro, uma agenda conservadora até mesmo no plano doméstico.

Abro um parênteses aqui para advertir meus caros leitores a não se precipitarem em tirar conclusões a respeito da orientação dos governos de Israel baseados em pura retórica (Lieberman disse isso, Bibi disse aquilo, Barak afirmou aquele outro). A retórica é parte do cinismo, como virei a explicar mais abaixo. A classificação do posicionamento de um político tem, na verdade, a ver com o tipo de lei que este vem tentando promulgar, qual é o tipo de voto na Knesset, que políticas internas apoia. Como a imprensa internacional não se fixa muito em nomes de políticos relativamente obscuros, muito menos da politicagem de 2o e 3o escalão, fica parecendo que há uma sólida colocação que pode ser facilmente refletida na retórica internacional (Lieberman disse isso, Bibi disse aquilo, Barak afirmou aquele outro). Enfim, não há tal reflexo. Fim dos parênteses.

Dentre os diversos problemas enfrentados pelo atual governo, se destaca o dos colonos. Já faz mais de 30 anos que o colonialismo e o expansionismo são identificados com a direita israelense. Sendo o governo de direita (e cheio de representantes dos colonos), os colonos são os crentes, os anti-colonos são os cínicos. Nataniahu afirma para Obama que fará uma pausa nas construções nos assentamentos, lá vem os colonos (crentes) a chiar, acreditando que a política é a sério, e que é exatamente o que vai acontecer. Ficam os esquerdistas (cínicos) a lembrarem que nada do que o Bibi diz realmente é feito, e que, mais a mais, não faz sentido uma paralisação nas construções nos assentamentos. Ou bem se para permanentemente, ou se segue construindo como antes.

Na verdade só dei um exemplo conhecido para apresentar melhor o ponto. Ele nem sequer é o melhor exemplo. Os melhores estão dentro da política interna, gerados pelo 2o e terceiro escalões que a imprensa internacional nem se dignifica em noticiar (o que é uma pena - quem sabe alguém fora de Israel passasse a ter pena da gente e viesse tentar nos salvar de nossos políticos).

Aqui vai: O ministro da justiça, Yaakov Neeman, afirmou, durante um congresso rabínico, que "A glória passada deveria ser restaurada, que a lei da Torah seja a lei unificadora do Estado de Israel" em uma colocação claramente teocrática, retrógrada e política (dada a incompatibilidade de manter um sistema jurídico conciso e ter uma lei de 3000 anos de idade).

O ministro foi ovacionado pelos rabinos e criticados por todo o resto. Os que apoiam uma iniciativa dessas claramente relevam a impossibilidade de tal implementação e babam sobre esse sonho teocrático, ainda mais quando vem de um ministro. E assim se tornam crentes. Todo o resto, mortificado com a possibilidade de nos tornarmos de facto uma Arábia Saudita, mesmo sabendo da impossibilidade concreta de isso acontecer por decreto, fica aterrorizado. O suficiente para só poder seguir respirando fazendo muita crítica e piada a respeito. São os cínicos. Só sendo muito cínico para passar um susto desses vivo.

Uma outra aqui: O aqui já festejado ministro das finanças (festejado aqui, como cínico que sou) Yuval Steinitz pediu para a suprema corte parar de tomar decisões judiciais que fossem caras demais para o Estado. Quem não faz ideia do que significa democracia e divisão de poderes, aplaude a ideia, e como crente que são, realmente acreditam que agora o país estará redimido e terá seu futuro salvo. Os outros ficam tão aterrorizados que só o cinismo para salvá-los de um ataque cardíaco fulminante.

A última do Mossad? Só com muito cinismo, algum sarcasmo e uma dose de ironia (grossa, que a fina a gente reserva para assuntos mais sérios) a gente leva. A pior? A ideia (link não é o oficial do Ministério, mas de um fellow blogger que explica não só a ideia em si, mas o contexto da coisa) do Ministro da Informação Pública e da Diáspora e sua campanha de Hasbará popular. É literalmente rir para não chorar.

Houve quem escreveu, em geral dentro de regimes totalitaristas, que os cínicos são a desgraça da nação.

Acho que só quem viu seu país entrar em uma guerra inconsequente (mais de uma vez) entende que o que realmente mina a viabilidade de uma verdadeira democracia é a crença desvairada.

sábado, fevereiro 13, 2010

Rafi

- Preciso de um carreto, da Ben-Yehuda em Tel-Aviv até Bialik, em Ramat Gan. Quanto vai me custar?

- Qual é a carga?

- Um colchão e um estrado. Eu carrego tudo. Só preciso do transporte. Quanto sai?

- 200 Shekalim.

- Tá ótimo. - Tava caro. São todos bem caros. E se eu pechinchasse talvez ele baixasse o preço. Mas sou ruim nisso e não estava de bom humor. - Hoje às 6 você está livre?

- Ehn... Deixe-me ver. - Deu um tempo e depois voltou à linha: - Às 6, é? Onde?

- Na Ben-Yehuda, numero tal. Vou estar esperando lá embaixo com o colchão e o estrado.

- Colchão e estrado, né? Prá onde?

- Bialik, Ramat Gan.

- Que andar?

- Não importa. Eu carrego tudo.

- Certo. Vai custar 300 shekalim.

- Mas você acabou de me dizer que eram 200!

- Tá. 200.

O Rafi era um cara em alguma coisa entre os 50 e os 60 anos, mas com aquela cara acabada de de quem fumou a vida inteira. Tinha um cabelo grisalho, bem comprido, até os ombros, que ele não prendia e parecia que também não penteava. Bem magro, um corpo que parecia ser musculoso e encurvado para frente. Estava todo errado. Tinha que estar segurando uma Fender, com um cigarro de maconha pendurado nos beiços tocando hard blues em um palco mal iluminado. Mas estava dirigindo seu caminhão com meu colchão dentro. O caminhão sim que estava certo. Era um desses mercedinhos urbanos com caçamba de lona, toda pichada com spray de cores fosforescentes, desenhos psicodélicos e o telefone dele. Rafi - Mudanças. 054-Tal-Tal-e-Tal.

Subi com ele na cabine. O acabamento de plástico das portas e do painel davam dicas da idade do caminhão. No rádio tocava Galgalatz (pop streamline jabá). Então ele começou com aquilo que parece ser compulsão de todo transportador em Israel: meter-se na minha vida e contar a sua própria.

Depois do "O que é que você faz? Ah! Estuda! O que? E tem trabalho? Dá dinheiro?", ele começou a contar da vida dele.

No exército (não perguntei quando foi isso) ele havia estado em uma unidade de demolição.

- Demolição?

- É. Isso. De paredes a prédios inteiros.

Desmontavam e destruíam de tudo. Galpões, edifícios, construções em geral, pontes, torres - coisa velha no caminho, ou coisa nova mal feita, ou estruturas inimigas. Depois dos três anos obrigatórios, assinou contrato com o exército por mais tempo e acabou ficando mais quatro anos. Fez cursos no exterior e começou a usar explosivos como ninguém.

Depois desse período (e de reclamar do trânsito um bocado) ele contou que foi fazer aquilo na vida civil. Fez alguns cursos no exterior para poder validar seu conhecimento no exército. Depois de vários anos na área de demolição, com empresa própria e tudo, decidiu que não havia mais o que fazer na área. Não havia trabalho (que foi aliás, o lamento que o fez começar a contar a história toda). Vendeu tudo que tinha, comprou o caminhão (que pela cara devia ser aquele mesmo) e vivia de fazer mudanças.

Disse depois que tinha um Caffé seu, na esquina da Hertzel com a Wolfson, mas que o movimento era bem fraco.

Foi lá, aliás, comprando tubos de aço para fazer um dos meus projetos, que eu vi o caminhão estacionado (dentre outros vários) e peguei o telefone. Fiz questão de ver direito o lugar na outra vez que estive por lá. Dentro estava vazio, fora, numa das duas mesas, havia dois velhinhos marroquinos que pareciam ser habitués e jogavam conversa fora.

A musica? O mais brega dos pops orientais. Nada de psicho-rock dos anos 70.