tag:blogger.com,1999:blog-288844542024-03-06T02:59:14.007+02:00Des - OrienteE aqui a gente tenta descobrir se o pervertido sou eu ou a realidade ao meu redor.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.comBlogger60125tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-35610919159536836892011-05-06T13:11:00.003+03:002011-05-06T13:16:52.441+03:00Comprando requeijão no shuck, uma mulher que estava do meu lado pagando pergunta:<br />- Isso é bom?<br />E eu respondi que era das 3 melhores coisas do mundo depois de sexo. Aliás, eu pensei em responder isso, mas só disse que é ótimo.<br />- Parecido com Philadelphia? - E vocês manjam Philadelphia, aquele queijo cuja propaganda mostra Paris, num fundo musical de New York, New York.<br />- Muito melhor.<br />- Quantos porcento de gordura?<br />- Algo como duzentos zilhões. Você pode praticamente sentir as artérias do coração se entupindo a cada mordida, o colesterol fluindo nas veias.<br />- Uhm! Parece bom. Acho que também vou comprar.<br /><br />É isso aí, galera. Vamos aumentar a demanda para manter a oferta!Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-28074850243480251562010-10-12T09:56:00.002+02:002010-10-12T09:59:16.446+02:00Casamento católico com qualquer corporação.Já tentou se desconectar de uma companhia de internet, telefone, ou qualquer outra grande corporação que cobra automaticamente do seu cartão de crédito?<br /><br /><object width="480" height="385"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/04egstKvoFA?fs=1&hl=en_US"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/04egstKvoFA?fs=1&hl=en_US" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="385"></embed></object><br /><br />(video produzido por mim online com ferramentas online. Spielberg, te cuida, mano!)Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-37632783596825292302010-09-25T12:48:00.001+02:002010-09-25T12:49:47.659+02:00PaparapapaPARA TUDO!<div>Você já foi num baile fanque? Eu já. Ontem. É bem verdade que tocou axé miusique antes. Mas depois teve baile fanque. É também bem verdade que antes tocou uma salsa colombiana. Mas depois virou baile fanque.</div><div><br /></div><div>Juro!</div><div><br /></div><div>Também não é mentira que tava tocando antes pagode - dos ruins: aqueles mix eletrônicos, e que tinha gente dançando aquilo como se fosse salsa. Mas depois, palavra de honra, teve fanque. É verdade que não foi no Andaraí, nem no Belford Roxo, nem num morro da zona norte do Rio de Janeiro. Foi no sul de Tel-Aviv, onde a única camiseta do Flamengo que eu vi era falsificada a ponto de nem ter o símbolo do CRF na frente. Mas era vermelha e preta, com um número 10 branco nas costas. E o dono da respectiva cantava os fanques junto com o MC.</div><div><br /></div><div>Ah, é. Eu já ia chegar lá. Teve aquelas dancinhas de carnaval baiano, umas até bem velhas, mas depois veio o MC e com ele teve fanque.</div><div><br /></div><div>E ele fancou em português e, quem diria, em hebraico também! Você já tinha ouvido fanque em hebraico? Pois eu nunca tive essa chance. Até ontem, quando o hino do Flamengo se misturou com uma retórica quase pornográfica sobre o arsenal do tráfico carioca e uma colocação ou outra sobre o Senhor Bom Deus, em hebraico e em português.</div><div><br /></div><div>Eu pessoalmente não vejo muito problema em o Divino ser exaltado ao lado de AK-47 M-16, Glock, AR-15 e o Mengão. Já o Próprio, acho que não deve gostar muito.</div><div><br /></div><div>Se gostou ou não, a única manifestação da ira do Divino que eu presenciei foi a temperatura da cerveja.</div><div><br /></div><div>Pois é: Fanque carioca original já tem em Israel. Cerveja gelada que é bom, nem Deus consegue.</div>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-33102890317112491232010-08-22T03:31:00.001+03:002010-08-22T03:33:22.447+03:00Enroladus Lex, sed lex!<div>De um documento do juiz do Juizado especial de Curitiba que minha irmã trouxe:</div><div><br /></div><div><blockquote>"No caso em disceptação, ressumbrados os argumentos inseridos na peça limiar e em gavinha com a documentação que a ilustre, o beneplácito colimado nesta ensancha merece o tugúrio da lei, pois a peça limiar pode ser aceita como prova inequívoca exigida pelo artigo alhures invocado, demonstrando que a reclamada maliciosamente e em flagrante descompasso com o que prevê a legislação em vigor [...]"</blockquote></div><div><br /></div><div><blockquote>"Na controvérsia em realce, neste ensejo de cognição absolutamente sumária, dealba pelas assertivas da autora e pelos documentos colacionados nos autos [...]"</blockquote></div><div><br /></div>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-67085883040894771032010-08-18T03:36:00.002+03:002010-08-18T03:46:14.022+03:00Meu sobrinho sabe Photoshop<div>Digamos que o diretor de uma enorme montadora de aviões precise de um novo modelo de turbina. Para desenvolver o projeto, ele cria um concurso online e dá um prêmio em dinheiro para a turbina vencedora. Aí ele escolhe entre os projetos enviados e faz a tal da turbina.</div><div><br /></div><div>Você voaria num avião desenhado desta maneira? Nem eu. E é por isso que não existem concursos deste naipe pelo mundo afora.</div><div><br /></div><div>No entanto, parece que com desenho industrial e desenho gráfico a coisa é diferente: não é necessário encontrar um profissional da área, não é necessário este profissional compreender o projeto a fundo, nem sequer usar ferramentas sérias. Basta abrir um concurso com prêmio em dinheiro (que normalmente é bem abaixo dos reais custos do projeto) e afirmar por aí que o verdadeiro prêmio para o vencedor é receber o devido crédito - que teoricamente vai catapultar a carreira do dito designer para as alturas.</div><div><br /></div><div>Li hoje a matéria do <a href="http://blogs.estadao.com.br/link/web-doce-web/">caderno Link do Estadão</a> em que Guy Kawasaki explica (orgulhoso) que é exatamente assim que vai fazer a capa do seu próximo livro.</div><div><br /></div><div><i></i></div><blockquote><div><i>“Pelo método tradicional, a minha editora contrataria uma empresa, que me apresentaria seis ou sete opções de capa, e eu escolheria uma. No CrowdSpring, tenho 4 mil opções”, disse Kawasaki ao Link.</i></div><div><i>“Mesmo que alguns designers critiquem essa prática, alegando os outros 3.999 designers que perderem a competição terão desperdiçado sua força de trabalho, eu por acaso discordo dessa visão. Eu adoraria, por exemplo, que um jovem, recém-formado designer brasileiro, ganhasse o prêmio. Daria a ele a visibilidade necessária para lançar sua carreira.”</i></div></blockquote><div><i></i></div><div><br /></div><div>É óbvio que ele discorda dessa visão! Vai estar pagando 1000 dólares por algo de 5 a 10 horas vezes 4000 designers. Façam as contas.</div><div><br /></div><div>"Ah!" ele afirma "mas o felizardo vai ter visibilidade necessária para lançar sua carreira". Para isso a resposta é um <b>NÃO</b> bem redondo. Essa é uma premissa que existe na cabeça especialmente de quem não conhece o ramo. Não é <b>um</b> trabalho que vai lançar um designer - por mais que seja isso que ele (o jovem designer) espere que vai acontecer. É necessário bastante visibilidade sim. Mas é algo que se constrói ao longo de uma carreira. Faz <i>parte </i>da própria carreira.</div><div><br /></div><div>Vamos fingir então que todos os designers que mandaram seus trabalhos sejam igualmente competentes. Neste caso, a chance de cada um ganhar o prêmio é de 1/4000. Se o valor é de 1000 dólares, isso significa que trata-se de um investimento cujo retorno deve ser de 25 centavos em média. Se o trabalho em geral neste tipo de concurso é algo entre 5 e 10 horas (tomemos 7.5 como referência), cada designer estará trabalhando para ganhar 3 centavos por hora. Para valer à pena, a tal "visibilidade" que o tal internético promete em sua entrevista, deve valer <i>muito</i>.</div><div><br /></div><div>Ele também acha lindo maravilhoso que terá 4000 diferente modelos de capas para escolher. Desenho industrial e desenho gráfico significa, acima de tudo, tomar decisões. Se ele tiver que escolher entre 4000 trabalhos, na verdade, seria melhor que jogasse aleatoriamente imagens em sua tela e escolhesse uma delas do que pagar 1000 dólares pelo concurso. Ou, poderia contratar um designer gráfico competente para escolher um dos 4000 trabalhos. O que seria bastante contraproducente, já que toda a idéia é não contratar um designer.</div><div><br /></div><div>Agora, ele poderia fazer como vários quase-clientes meus, logo que recebem meu orçamento: "Ah! Tenho um sobrinho que sabe Photoshop, vou dar para ele fazer" - o que é o equivalente, no caso da turbina: "Ah! Tenho um sobrinho que sabe Autocad, vou dar para ele fazer"</div><div><br /></div><div>É que as pessoas acham que design é apenas estética e uso de computador para desenhar. Comunicação visual não existe. Mensagem subliminar, linguagem gráfica, nada disso existe.</div><div><br /></div><div>Ninguém fica achando que desenhar uma turbina exige apenas conhecimento de solda de alumínio e um programa de CAD.</div><div><br /></div><div>Fazer a capa de um livro exige conhecer o mercado do livro específico, entender a mensagem do livro, absorver os interesses editoriais tanto da editora quanto do autor, compreender a linguagem gráfica de livros análogos e afins. No final das contas, depois de MUITO trabalho, vai-se ao computador (ou às vezes à prancheta mesmo).</div><div><br /></div><div>E depois, você ainda pode ganhar um milhão de dólares se o cliente não vier pedindo alterações nas cores ou nas linhas, baseado apenas em sua opinião e gosto pessoal.</div><div><br /></div><div>Eu nunca vi o dono de uma empresa dizer para um engenheiro que a turbina precisa ter uma outra curva, ou ter um compressor com menos pás, porque era assim que ele imagina que as coisas devam ser.</div>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-40013170101756345162010-08-03T21:57:00.004+03:002010-08-03T22:05:22.428+03:00E quando voce menos espera: nada de novo - Antissemitismo InternéticoPasso aqui o <a href="http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4601194-EI308,00-Noam+Shalit+faz+apelo+ao+povo+palestino+as+vesperas+do+Ramada.html">link </a>para uma matéria assinada pelo meu amigo <a href="http://carteirosempoeta.wordpress.com/">Gabriel Toueg</a> no site do Terra, sobre os pais de Gilad Shalit. Chamo a atenção, no entanto, para a caixa de comentários que, no Terra, ao contrário de outros portais, não é moderada.<div><br /></div><div>Entrem, dêem uma olhada e concluam tudo que vocês quiserem por conta própria. Eu não vou me dignar a adicionar adjetivos ou colocações, por desnecessário e dolorido.</div><div><br /></div><div>Mas advirto aos incautos: é conteúdo extremamente chocante.</div>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-43686566075828277552010-07-30T12:20:00.005+03:002010-07-30T12:53:48.215+03:00Seja Ars, Seja Feliz!(Por favor, para entrar no clima do post, clique play no vídeo abaixo antes de seguir lendo. Obrigado)<br /><br /><object height="340" width="560"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/k967NdMgZSw&hl=en_US&fs=1?rel=0"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/k967NdMgZSw&hl=en_US&fs=1?rel=0" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="340" width="560"></embed></object><br /><br /><br /><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 150px; height: 200px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_S0yVLwN1pWw/TFKewtPDQ4I/AAAAAAAABEk/IvT8z4Aq47Y/s200/ars1.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5499632654586430338" border="0" />Ah! Os Arsim. Tanto de Israel cantado em versos e prosa, exaltado pela cultura popular e erudita e tão pouco é dito sobre este ícone da personalidade israelense: o Ars.<br /><br />Sociólogos se perguntam se o Ars é um subproduto da sociedade ou sua razão de ser - como se fizesse qualquer diferença decidir o que veio antes; o ovo ou a galinha.<br /><br />Existem basicamente dois tipos de Arsim. Há o Ars que nega sua condição de Ars, e o que a exalta. O primeiro tipo vai usar as roupas mais caras de que já ouviu falar. Mesmo que uma coisa não combine muito com a outra. É um quase metrosexual, mas provavelmente cuida tanto dos cabelos do peito quanto os da cabeça, deixando todos devidamente visíveis (e oxigenados). O Ars de negação vai ouvir musica oriental bregamusic, mas só as que estão no main-stream. Ele provavelmente tem família em Rishon-Le'Tzion, mas faz questão de morar em Tel-Aviv. Tem uma namorada "séria", mas faz questão de ser conhecido como grande comedor.<br /><br /><img style="float: right; margin: 0pt 0pt 10px 10px; cursor: pointer; width: 197px; height: 200px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_S0yVLwN1pWw/TFKfuEWHC4I/AAAAAAAABEs/WK3zkAfVEnE/s200/ars2.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5499633708762073986" border="0" />Já o Ars que se exalta é o contrário: provavelmente está comendo várias, mas tanto ele quanto as ditas preferem negar a situação. Ele tem um vocabulário próprio que, por algum motivo fisiológico, não pode ser proferido abaixo de 160 decibéis (é curioso observar que, quando nervoso - isto é, 95% do tempo, este tipo de Ars justamente fala baixo e com pretensa calma). Na comunicação, este tipo de Ars fica completamente mudo se não puder usar o corpo inteiro (especialmente as mãos) para dizer o que quer. Veste-se de maneira casual com uma camiseta regata e calça velha. Nos velhos, a calça deixa aparecer o cofrinho. Nos jovens, deixa aparecer a cueca - que aliás, é o que usam na praia.<br /><br />Ambos tem o mesmo gosto culinário: comida da mãe, shawarma e faláfel. A diferença está no método de comer sementinhas de girassol. Um joga tudo empilhado no chão mesmo numa bonita montanha. O outro espalha as sementinhas por um espaço mais amplo.<br /><br /><img style="float: left; margin: 0pt 10px 10px 0pt; cursor: pointer; width: 200px; height: 150px;" src="http://2.bp.blogspot.com/_S0yVLwN1pWw/TFKgDq1LCrI/AAAAAAAABE0/XLI5zK4DpnQ/s200/ars3.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5499634079870159538" border="0" />Posicionamento político: conservador. Posicionamento religioso: conservador. Posicionamento social sexual: depende. Na verdade, são ambos bastiões do machismo conservador, mas o primeiro tipo, o Ars de negação, vai dizer que é liberal prá caramba, e vai explicar que os grilhões que põe na mulher na frente do tanque é pelo bem dela, para não se perder pela casa.<br /><br /><object height="340" width="560"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/mEUO7_GWoLo&hl=en_US&fs=1?rel=0"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/mEUO7_GWoLo&hl=en_US&fs=1?rel=0" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="340" width="560"></embed></object><br />Moshik Afia; Exemplo de Ars exaltado travestido de Ars discreto<br /><br /><br />Nos últimos anos, imitando o movimento Black-Power dos EUA nos anos 70, quando o slogan era "Black is Beutiful", entrou na moda em Israel o "Ars is cool". Não que não fosse fato conhecido tanto do povo quanto dos meios acadêmicos que, um pouco de Ars, quase todo israelense tem. Ser Ars agora está na moda. É in, é fashion. E daí vem agora esse povo que põem humus em tudo que é comida festejar sua Arsitute colocando neon roxo debaixo do carro (o Arsmobile), pendurando uma <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Hamsa">Hamsa </a>no espelho, ouvindo Shlomi Saranga (do vídeo lá de cima) no máximo volume e - não só achar que está abafando, mas efetivamente estar.<br /><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/V2FzVpOuQDY&hl=en_US&fs=1?rel=0"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/V2FzVpOuQDY&hl=en_US&fs=1?rel=0" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="344" width="425"></embed></object><br />Estudo científico de campo sobre os Arsim.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-89066810498958560512010-06-05T13:18:00.000+03:002010-06-05T13:20:00.507+03:00Um barco cheio de retóricas - uma caixa de comentários cheia de ódio.Um dos motivos pelos quais não haverá paz, nem sequer acordo entre Israel e palestinos nem em breve, nem a médio prazo é por causa da retórica da população. E a população aqui inclui israelenses, inclui palestinos e, principalmente, mais que qualquer um, cidadãos do resto do mundo.<br /><br />Explico antes a importância da <b>retórica israelense</b>: Algo como dois dias depois do ataque vejo pipocando pelo país manifestações de apoio ao exército e aos soldados que participaram da ação. E aí pensei "bingo. Ponto pro Bibi".<br /><br />O motivo é o seguinte: O exército vai ter <i>sempre</i> o incondicional apoio da população. Moral dos soldados é assunto sagrado em Israel, sem falar de que <i>os soldados</i> não são um grupo a parte, <i>os soldados</i> são a população. Quase todos fazem exército (mulheres inclusive), o que significa que os pais tem filhos e filhas no exercito e fazem serviço de reserva. O ponto que eu dou para o Nataniahu aqui é, portanto, porque ele conseguiu desviar o foco do verdadeiro problema. E o pior é que parece que muito pouca gente reparou nisso.<br /><br />Sair pela imprensa afora gritando "O mundo está contra nós", como tem feito o governo de Israel hoje (e mais metade da população aqui) é não só uma verdade auto-realizável (afinal esse tipo de atitude <i>realmente</i> gera ódio internacional), como também é um processo político útil em vários níveis. É útil porque aumenta a moral do povo e do exército para a continuação do conflito, e não sua resolução. É útil porque justifica situações injustificáveis - como o bloqueio de Gaza. E, principalmente, porque uma situação de pressão externa desvia o foco de atenção da população.<br /><br />Eu tive certeza de que logo após o desastroso ataque veríamos pelo país manifestações exigindo a cabeça do governo e do Nataniahu em particular, pela total e completa incompetência em resolver o problema. A imprensa tentou fazer o papel dela e chamou atenção para a péssima inteligência por detrás do ataque (se o Barak sabia, como afirmou depois, que havia no navio jihadistas querendo ser mártires prontos para briga, por que o ataque foi tão mal planejado? E se não sabia, como não sabia de um "detalhe" tão importante?). Chamou atenção para a péssima Hasbarah depois do ataque. Enfim, mostrou como o governo, mais uma vez, foi de suprema incompetência em lidar com assuntos tão importantes. E eu, na minha mísera inocência, achei que o povo iria às ruas para exigir respostas. Exigir uma mudança na organização política.<br /><br />E eis que os governistas organizam manifestações de apoio ao exército, que na verdade nem precisa de manifestações de apoio, e que tiram toda a corrente de falhas do foco da discussão. Discussão essa que voltou a ser: "O mundo nos odeia, temos que nos defender".<br /><br />Complicando ainda mais a situação, gerou-se uma dualidade falsa que faz de mim e outros que pensam como eu verdadeiros párias da direita e da esquerda de uma só vez. Houve sim protestos na noite seguinte ao ataque. Só que eram protestos contra o exército e contra os soldados. E esses, realmente fizeram um bom trabalho dadas as circunstâncias. Exércitos, por definição não tem ideologia ou alinhamento político. São, quando muito, o braço armado do governo. E eu queria era protestar contra o governo. A esquerda então me vê com olhos tortos, achando que eu sou a favor do cerco a Gaza e um direitista enrustido. Já as manifestações a favor do exército, eu me recusei a participar. Não ia participar desta farsa para desviar a atenção aos verdadeiros problemas: portanto me tornei um esquerdista.<br /><br />Ou seja: hoje em Israel há, mesmo dentro da população, muito pouco lugar para diálogo e o saudável uso das faculdades mentais.<br /><br /><br />Quanto à <b>retórica do Hamás/Palestina/Turquia</b>: Meu pai já dizia que não basta ter razão, é preciso saber ter razão. E este é um exemplo maravilhoso de quem conseguiu estragar sua posição não sabendo ter razão. Furar o bloqueio de Gaza é um movimento político tão poderoso que juntou gente do mundo todo para o mar. Fazer Israel parecer mal na fita é um movimento político tão poderoso que juntou à gente do mundo todo um tiquinho de malícia jihadista suicida também. O erro foi tentar manter os dois grupos (que tinham objetivos bem diferentes) no mesmo barco. O plano de um (fazer pressão política para que Israel abra o bloqueio) acabou afetando o plano de outro (fazer Israel parecer mal na fita quando soldados da Shaietet 13 quase foram sequestrados à bordo do barco). E o outro acabou afetando às boas intenções do primeiro.<br /><br />Para a alegria dos jihadistas, o primeiro objetivo não tinha a menor importância, assim que tiveram, ao seu ver, sua missão cumprida. Israel saiu bem mal na fita (ainda pior do que eles tinham imaginado antes), o premier turco ganhou uns 200 pontos políticos com sua população cada vez mais extremista e o IHH ganhou mais e mais adeptos pelo mundo. Tudo, claro, às custas do conflito entre palestinos e israelenses, mas sem fazer avançar o conflito para uma solução em um único milímetro (e talvez muito pelo contrário - aumentando o ódio e estendendo a guerra um pouco mais).<br /><br /><br />Quanto à <b>retórica do resto do mundo</b>, a situação se empobrece em praticamente todos os âmbitos. O movimento mundial contra Israel se fortaleceu. Infelizmente não na direção correta. Manifestações em São Paulo comparando Israel aos nazistas (por gente que não sabe o que foi o nazismo e não conhece Israel), gente escrevendo na Internet tantos clichês que às vezes sinto que simplesmente não há limite plausível para a ignorância humana. Leio no Twitter deputados federais com linhas de raciocínio tão racistas quanto Pol-Pot, sendo interpelados em seus textos por gente que consegue ser mais racista ainda. (Já li frases que começavam com um "até tenho uns amigos judeus...").<br /><br />A crítica não é à ação em si. A critica não é ao bloqueio de Gaza, e a critica sequer é quanto ao conflito com os palestinos. A crítica se torna sobre a existência de Israel. E, neste caso, só torna Israel mais belicoso e rancoroso ainda. E, novamente, traz o conflito para situações ainda piores, ao invés de melhorar a situação.<br /><br />A triste situação é a de que radicais irracionais tanto fora quanto dentro de Israel são os responsáveis pela atual existência em Israel e na Palestina de um governo tão, mas <i>tão</i> incompetente. E o círculo só alimenta a si mesmo.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-26359446990371886742010-02-21T23:29:00.002+02:002010-02-21T23:36:51.480+02:00Se você é um esquerdista, digite um. Se é um direitista, digite dois.<span style="font-style: italic;">- Você ligou para TeleReclamação. Para reclamações sobre o clima, digite um. Para reclamar sobre sua situação econômica, digite dois. Para uma reclamação sobre o governo, digite três. Para reclamações gerais, digite quatro. Para o operador, digite nove, ou aguarde na linha.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">- Você digitou três, reclamações sobre o governo.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">- Se você é um esquerdista, digite um. Se é um direitista, digite dois. Para o operador, digite nove.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">- Você digitou nove. No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.</span><br /><br />♫<span style="font-style: italic;"> La donna è mobile</span><br /><span style="font-style: italic;">Qual piuma al vento,</span><br /><span style="font-style: italic;">Muta d'accento — e di pensiero.</span><br /><span style="font-style: italic;">Sempre un amabile,</span><br /><span style="font-style: italic;">Leggiadro viso, </span>♫<br /><br /><span style="font-style: italic;">- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.</span><br /><br />♫ <span style="font-style: italic;">In pianto o in riso, — è menzognero.</span><br /><span style="font-style: italic;">È sempre misero</span><br /><span style="font-style: italic;">Chi a lei s'affida,</span><br /><span style="font-style: italic;">Chi le confida — mal cauto il cuore!</span><br /><span style="font-style: italic;">Pur mai non sentesi</span><br /><span style="font-style: italic;">Felice appieno</span><br /><span style="font-style: italic;">Chi su quel seno — non liba amore!</span> ♫<br /><br /><span style="font-style: italic;">- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua...</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">- Telereclamação boa tarde, quem está falando é Júlia, em que posso ajudar?</span><br /><br />- Oi, Júlia. Eu digitei três, para reclamar sobre o governo...<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Sim?</span><br /><br />- Pois é, daí o sistema me deu opção de escolher entre direita e esquerda. Acontece que eu não me considero nem esquerdista nem direitista, então decidi falar com o operador. O caso é que...<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Desculpe, senhor. O senhor acaba de colocar uma reclamação sobre o sistema, isto é correto?</span><br /><br />- Sim, é, mas não vem ao caso. O que eu queria reclamar mesmo é que...<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Desculpe-me novamente senhor. Mas para reclamações sobre o sistema o senhor deveria dirigir-se para "Reclamações em geral". Por favor, aguarde um instante que eu vou transferir sua ligação.</span><br /><br />- Não! Espere!<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Obrigada, tenha um bom dia!</span><br /><br />♫ <span style="font-style: italic;">La donna è mobile</span><br /><span style="font-style: italic;">Qual piuma al vento,</span><br /><span style="font-style: italic;">Muta d'accento — e di pensiero. </span>♫<br /><br /><span style="font-style: italic;">- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.</span><br /><br />♫ <span style="font-style: italic;">Sempre un amabile,</span><br /><span style="font-style: italic;">Leggiadro viso,</span><br /><span style="font-style: italic;">In pianto o in riso, — è menzognero.</span><br /><span style="font-style: italic;">È sempre misero</span><br /><span style="font-style: italic;">Chi a lei s'affida,</span> ♫<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Telereclamação boa tarde, quem está falando é Daniela, em que posso ajudar?</span><br /><br />- Ola, Daniela. Eu na verdade queria fazer uma reclamação sobre política. Só que daí o sistema de vocês só está programado para aceitar resposta se eu sou de esquerda ou se eu sou de direita. Acontece que eu não sou nem uma coisa nem outra.<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Entendo, senhor. O senhor gostaria de fazer uma reclamação a respeito disso?</span><br /><br />- Também. Mas o fato foi que eu liguei para fazer uma reclamação sobre política e...<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Sinto muito, senhor, mas aqui é o terminal de reclamações gerais. Aguarde um instante que eu vou transferir sua chamada.</span><br /><br />- Mas...!<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Obrigado, e tenha um bom dia.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;"> </span>♫ <span style="font-style: italic;">La donna è mobile</span><br /><span style="font-style: italic;">Qual piuma al vento,</span><br /><span style="font-style: italic;">Muta d'accento — e di pensiero.</span><br /><span style="font-style: italic;">Sempre un amabile, </span>♫<br /><br /><span style="font-style: italic;">- No momento todos os nossos terminais estão ocupados. Por favor, aguarde até que um de nossos atendentes possa lhe atender. Sua chamada é muito importante para nós. Por favor, aguarde.</span><br /><br />♫ <span style="font-style: italic;">Leggiadro viso,</span><br /><span style="font-style: italic;">In pianto o in riso, — è menzognero.</span><br /><span style="font-style: italic;">È sempre misero</span><br /><span style="font-style: italic;">Chi a lei s'affida,</span><br /><span style="font-style: italic;">Chi le confida — mal cauto il cuore!</span><br /><span style="font-style: italic;">Pur mai non sentesi </span>♫<br /><br /><span style="font-style: italic;">- No momento todos os...</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">- Telereclamação boa tarde, quem está falando é Júlia, em que posso ajudar?</span><br /><br />- Olá, Júlia. Eu tenho uma reclamação política para fazer.<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Sim? O senhor é de esquerda ou de direita?</span><br /><br />- Eu sou coisa nenhuma. Aliás, essa história de tentar enquadrar todo mundo dentro de um modelo em um espectro unidimensional de esquerda e direita já está para lá de passado. E é por isso que eu gostaria de reclamar de...<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Desculpe senhor, mas o senhor só pode fazer uma reclamação a cada ligação. A não ser que o senhor seja cliente preferencial. O senhor é cliente preferencial?</span><br /><br />- Mas eu ainda nem comecei!<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Desculpe, senhor, mas o que eu acabei de ouvir foi uma clara reclamação de cunho político mostrando insatisfação de sua parte do raso modelo de classificação política por parte dos programadores do terminal da nossa empresa. É isso, senhor, ou eu entendi errado?</span><br /><br />- Ehn, sim. Quero dizer, não! Oras, eu liguei para reclamar de um assunto de extrema importância e simplesmente não consigo passar pela pergunta se sou esquerda ou direita! O que eu queria mesmo reclamar é do...<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Senhor, por favor. Essa foi a segunda reclamação feita em uma única chamada. Se o senhor é um cliente preferencial, por favor, digite...</span><br /><br />- Mas eu ainda nem comecei!<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Senhor, por favor, não há motivo para levantar a voz. O senhor reclamou da qualidade dos nossos serviços. É a segunda reclamação, mas esta não é política, portanto eu vou transferir-la para outro terminal.</span><br /><br />- Não! Aquela bosta de musiquinha não!<br /><br /><span style="font-style: italic;">- Esta é sua terceira reclamação...</span>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-13328577169243450172010-02-19T11:34:00.003+02:002010-02-19T12:08:03.191+02:00Entre os Crentes e os CínicosA realidade só é mesmo digesta para aqueles que são cínicos ou para aqueles que são crédulos.<br /><br />A frase original não é minha e eu não me lembro quando a li, nem de quem ela é nem sua forma original. Adapto-a às minhas próprias necessidades.<br /><br />A frase é especialmente verdadeira no caso de Israel. E é mais válida ainda nos dias de hoje. Tenho reparado que, simplificando um monte, o povo se divide em esquerda e direita. Quando o governo é de esquerda, o povo de esquerda se torna crédulo, o povo de direita se torna cínico. Agora, quando o governo é de direita, o povo da direita se torna crédulo, e o povo esquerdista se torna cínico.<br /><br />Alguns (como este que vos escreve) seguem cínicos haja este ou outro governo . Mas acho que nunca vi ninguém que siga crédulo por vários governos seguidos.<br /><br />Vamos usar como exemplo, para tentar simplificar as coisas, o atual governo.<br /><br />Para quem ainda não reparou, o atual governo, liderado por Biniamin Nataniahu, é de direita. Não uma direitinha qualquer, mas uma mega direita, uma coalizão com ultra-nacionalistas de um lado, ultra-religiosos de outro, uma agenda conservadora até mesmo no plano doméstico.<br /><br />Abro um parênteses aqui para advertir meus caros leitores a não se precipitarem em tirar conclusões a respeito da orientação dos governos de Israel baseados em pura retórica (Lieberman disse isso, Bibi disse aquilo, Barak afirmou aquele outro). A retórica é parte do cinismo, como virei a explicar mais abaixo. A classificação do posicionamento de um político tem, na verdade, a ver com o tipo de lei que este vem tentando promulgar, qual é o tipo de voto na Knesset, que políticas <span style="font-style: italic;">internas </span>apoia. Como a imprensa internacional não se fixa muito em nomes de políticos relativamente obscuros, muito menos da politicagem de 2o e 3o escalão, fica parecendo que há uma sólida colocação que pode ser facilmente refletida na retórica internacional (Lieberman disse isso, Bibi disse aquilo, Barak afirmou aquele outro). Enfim, não há tal reflexo. Fim dos parênteses.<br /><br />Dentre os diversos problemas enfrentados pelo atual governo, se destaca o dos colonos. Já faz mais de 30 anos que o colonialismo e o expansionismo são identificados com a direita israelense. Sendo o governo de direita (e cheio de representantes dos colonos), os colonos são os crentes, os anti-colonos são os cínicos. Nataniahu afirma para Obama que fará uma pausa nas construções nos assentamentos, lá vem os colonos (crentes) a chiar, acreditando que a política é a sério, e que é exatamente o que vai acontecer. Ficam os esquerdistas (cínicos) a lembrarem que nada do que o Bibi diz realmente é feito, e que, mais a mais, não faz sentido uma paralisação nas construções nos assentamentos. Ou bem se para permanentemente, ou se segue construindo como antes.<br /><br />Na verdade só dei um exemplo conhecido para apresentar melhor o ponto. Ele nem sequer é o melhor exemplo. Os melhores estão dentro da política interna, gerados pelo 2o e terceiro escalões que a imprensa internacional nem se dignifica em noticiar (o que é uma pena - quem sabe alguém fora de Israel passasse a ter pena da gente e viesse tentar nos salvar de nossos políticos).<br /><br />Aqui vai: O ministro da justiça, Yaakov Neeman, <a href="http://www.haaretz.com/hasen/pages/ShArt.jhtml?itemNo=1133752&contrassID=2&subContrassID=1">afirmou</a>, durante um congresso rabínico, que "A glória passada deveria ser restaurada, que a lei da Torah seja a lei unificadora do Estado de Israel" em uma colocação claramente teocrática, retrógrada e política (dada a incompatibilidade de manter um sistema jurídico conciso e ter uma lei de 3000 anos de idade).<br /><br />O ministro foi ovacionado pelos rabinos e criticados por todo o resto. Os que apoiam uma iniciativa dessas claramente relevam a impossibilidade de tal implementação e babam sobre esse sonho teocrático, ainda mais quando vem de um ministro. E assim se tornam <span style="font-style: italic;">crentes</span>. Todo o resto, mortificado com a possibilidade de nos tornarmos <span style="font-style: italic;">de facto</span> uma Arábia Saudita, mesmo sabendo da impossibilidade concreta de isso acontecer por decreto, fica aterrorizado. O suficiente para só poder seguir respirando fazendo muita crítica e piada a respeito. São os cínicos. Só sendo muito cínico para passar um susto desses vivo.<br /><br />Uma outra <a href="http://www.ynet.co.il/english/articles/0,7340,L-3820460,00.html">aqui</a>: O aqui já festejado ministro das finanças (festejado <a href="http://desoriente.blogspot.com/2009/09/da-noite-quando-conheci-cid-moreira-na.html">aqui</a>, como cínico que sou) Yuval Steinitz pediu para a suprema corte parar de tomar decisões judiciais que fossem caras demais para o Estado. Quem não faz ideia do que significa democracia e divisão de poderes, aplaude a ideia, e como crente que são, realmente acreditam que agora o país estará redimido e terá seu futuro salvo. Os outros ficam tão aterrorizados que só o cinismo para salvá-los de um ataque cardíaco fulminante.<br /><br />A última do Mossad? Só com muito cinismo, algum sarcasmo e uma dose de ironia (grossa, que a fina a gente reserva para assuntos mais sérios) a gente leva. A pior? A <a href="http://shmookty.wordpress.com/2010/02/19/once-again-israel-shoots-itself-in-both-legs/">ideia</a> (link não é o oficial do Ministério, mas de um fellow blogger que explica não só a ideia em si, mas o contexto da coisa) do Ministro da Informação Pública e da Diáspora e sua campanha de Hasbará popular. É literalmente rir para não chorar.<br /><br />Houve quem escreveu, em geral dentro de regimes totalitaristas, que os cínicos são a desgraça da nação.<br /><br />Acho que só quem viu seu país entrar em uma guerra inconsequente (mais de uma vez) entende que o que realmente mina a viabilidade de uma verdadeira democracia é a crença desvairada.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-55592670228770389482010-02-13T12:04:00.002+02:002010-02-13T12:19:37.703+02:00Rafi- Preciso de um carreto, da <a href="http://maps.google.com/maps?f=q&source=s_q&hl=en&geocode=&q=ben-yehuda+tel-aviv&sll=37.0625,-95.677068&sspn=45.332616,99.931641&ie=UTF8&hq=ben-yehuda&hnear=Tel+Aviv,+Israel&z=15&iwloc=A">Ben-Yehuda</a> em Tel-Aviv até <a href="http://maps.google.com/maps?f=q&source=s_q&hl=en&geocode=&q=bialik+ramat-gan&sll=32.081353,34.770616&sspn=0.023817,0.048795&ie=UTF8&hq=bialik&hnear=Ramat+Gan,+Israel&z=16&iwloc=A">Bialik</a>, em Ramat Gan. Quanto vai me custar?<br /><br />- Qual é a carga?<br /><br />- Um colchão e um estrado. Eu carrego tudo. Só preciso do transporte. Quanto sai?<br /><br />- 200 Shekalim.<br /><br />- Tá ótimo. - Tava caro. São todos bem caros. E se eu pechinchasse talvez ele baixasse o preço. Mas sou ruim nisso e não estava de bom humor. - Hoje às 6 você está livre?<br /><br />- Ehn... Deixe-me ver. - Deu um tempo e depois voltou à linha: - Às 6, é? Onde?<br /><br />- Na Ben-Yehuda, numero tal. Vou estar esperando lá embaixo com o colchão e o estrado.<br /><br />- Colchão e estrado, né? Prá onde?<br /><br />- Bialik, Ramat Gan.<br /><br />- Que andar?<br /><br />- Não importa. Eu carrego tudo.<br /><br />- Certo. Vai custar 300 shekalim.<br /><br />- Mas você acabou de me dizer que eram 200!<br /><br />- Tá. 200.<br /><br />O Rafi era um cara em alguma coisa entre os 50 e os 60 anos, mas com aquela cara acabada de de quem fumou a vida inteira. Tinha um cabelo grisalho, bem comprido, até os ombros, que ele não prendia e parecia que também não penteava. Bem magro, um corpo que parecia ser musculoso e encurvado para frente. Estava todo errado. Tinha que estar segurando uma Fender, com um cigarro de maconha pendurado nos beiços tocando hard blues em um palco mal iluminado. Mas estava dirigindo seu caminhão com meu colchão dentro. O caminhão sim que estava certo. Era um desses mercedinhos urbanos com caçamba de lona, toda pichada com spray de cores fosforescentes, desenhos psicodélicos e o telefone dele. Rafi - Mudanças. 054-Tal-Tal-e-Tal.<br /><br />Subi com ele na cabine. O acabamento de plástico das portas e do painel davam dicas da idade do caminhão. No rádio tocava <a href="http://www.fromil.com/radio/index.php?radio=4">Galgalatz</a> (pop streamline jabá). Então ele começou com aquilo que parece ser compulsão de todo transportador em Israel: meter-se na minha vida e contar a sua própria.<br /><br />Depois do "O que é que você faz? Ah! Estuda! O que? E tem trabalho? Dá dinheiro?", ele começou a contar da vida dele.<br /><br />No exército (não perguntei quando foi isso) ele havia estado em uma unidade de demolição.<br /><br />- Demolição?<br /><br />- É. Isso. De paredes a prédios inteiros.<br /><br />Desmontavam e destruíam de tudo. Galpões, edifícios, construções em geral, pontes, torres - coisa velha no caminho, ou coisa nova mal feita, ou estruturas inimigas. Depois dos três anos obrigatórios, assinou contrato com o exército por mais tempo e acabou ficando mais quatro anos. Fez cursos no exterior e começou a usar explosivos como ninguém.<br /><br />Depois desse período (e de reclamar do trânsito um bocado) ele contou que foi fazer aquilo na vida civil. Fez alguns cursos no exterior para poder validar seu conhecimento no exército. Depois de vários anos na área de demolição, com empresa própria e tudo, decidiu que não havia mais o que fazer na área. Não havia trabalho (que foi aliás, o lamento que o fez começar a contar a história toda). Vendeu tudo que tinha, comprou o caminhão (que pela cara devia ser aquele mesmo) e vivia de fazer mudanças.<br /><br />Disse depois que tinha um Caffé seu, na <a href="http://maps.google.com/maps?f=q&source=s_q&hl=en&q=%D7%94%D7%A8%D7%A6%D7%9C+%D7%A4%D7%99%D7%A0%D7%AA+%D7%95%D7%95%D7%9C%D7%A4%D7%A1%D7%95%D7%9F,+%D7%AA%D7%9C+%D7%90%D7%91%D7%99%D7%91+%D7%99%D7%A4%D7%95,+Israel&sll=32.282506,34.908163&sspn=0.011882,0.024397&ie=UTF8&cd=1&geocode=FfMq6QEdr48SAg&split=0&hq=&hnear=%D7%94%D7%A8%D7%A6%D7%9C+%D7%A4%D7%99%D7%A0%D7%AA+%D7%95%D7%95%D7%9C%D7%A4%D7%A1%D7%95%D7%9F,+%D7%AA%D7%9C+%D7%90%D7%91%D7%99%D7%91+%D7%99%D7%A4%D7%95,+Israel&z=16">esquina da Hertzel com a Wolfson</a>, mas que o movimento era bem fraco.<br /><br />Foi lá, aliás, comprando tubos de aço para fazer um dos meus projetos, que eu vi o caminhão estacionado (dentre outros vários) e peguei o telefone. Fiz questão de ver direito o lugar na outra vez que estive por lá. Dentro estava vazio, fora, numa das duas mesas, havia dois velhinhos marroquinos que pareciam ser habitués e jogavam conversa fora.<br /><br />A musica? O mais brega dos pops orientais. Nada de psicho-rock dos anos 70.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-17144106063144084922009-12-04T11:43:00.001+02:002009-12-04T11:46:07.728+02:00Tel Aviv em fotos.Obrigado ao <a href="http://twitter.com/hofnik">@hofnik</a> pela dica;<br /><br />Fotos por <a href="http://www.flickr.com/photos/shaysapir/sets/72157622000790172/">Shay Sapir</a>.<br /><br /><iframe align="center" src="http://www.flickr.com/slideShow/index.gne?group_id=&user_id=&set_id=72157622000790172&tags=FotosdeTelAvivporShaySapir" frameBorder="0" width="500" height="500" scrolling="no"></iframe><br/><small>Created with <a href="http://www.admarket.se" title="Admarket.se">Admarket's</a> <a href="http://flickrslidr.com" title="flickrSLiDR">flickrSLiDR</a>.</small>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-3242490272996549532009-11-27T19:50:00.011+02:002009-11-28T12:27:53.494+02:00Comida Típica Israelense<h2>Quais são as comidas típicas de Israel?</h2><br />Esta pergunta envolve uma enorme gama de respostas complexas que por vezes podem vir a agredir povos e culturas.<br /><br />Por exemplo: a maior religião monoteísta do Oriente Médio se chama <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Hummus"><strong>Humus</strong></a>. Quase todo país da região se considera pátria "mãe" do Humus e todo povo acha que <i>seu</i> Humus é bem melhor que o Humus dos outros.<br /><br />É a ponto de altíssimas porradas.<br /><br />Um caso exemplar é o do Líbano inventando de criar o <a href="http://news.bbc.co.uk/2/hi/8324530.stm">maior prato de Humus do mundo</a>. Um feito que só pode ser comparado com o de Neil Armstrong fincando a bandeira americana na Lua para confirmar que aquilo, em nome dos americanos, pertence a toda a humanidade. O Líbano, com suas toneladas do prato afirmam: O Humus é nosso - e ninguém tasca!<br /><br />Nem em Israel é questão clara. Onde está o melhor Humus? Yaffo? Abu-Gosh? Jerusalém? Cada um tem seu Humus preferido e se você inventar de discutir que aquele seu é melhor, vai acabar levando uma pratada na cara.<br /><br />Israel obviamente não poderia ter algo a ser chamado de "comida típica". Tem uma história de imigração de pouco mais de 150 anos, em uma terra que já foi controlada por diversos governos e povos, por onde já passou uma quantidade não desprezível de povos que ficaram aqui por tempos variáveis. Os que aqui agora estão trouxeram cada um o seu prato. Palestino, Druso, Buhari, Iraniano, Iraquiano, Marroquino, Tunísio, Egípcio, Liberiano, Polonês, Lituano, Russo, Ucraniano e depois ainda Argentino, mais Russo, Brasileiro, Americano, Francês e finalmente Filipino e Chinês.<br /><br /><h2>Questão de Semântica;</h2><br /><br />Um israelense médio, de inteligência média, de conhecimento de mundo médio e de opiniões médias vai afirmar, sem pensar demais, que comidas típicas israelenses são:<br /><br /><div style="margin: 0pt; width: 100%; padding-left: 30px;"><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaI7Ky6A6ovyTnJgQ7gxO9cfA4dmXd3S8owXZtGojDuH7885xKQ1EwTS89WYz7_FfqAHYbCWDwi9Ylao_vq-zd6PXi5JGNgBPw7A61h1V624sgQLazbpX6FQstKswJ5aSJAXqDrg/s400/burekas-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3>Bourekas</h3></div><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsPZlyQzTmR76VbvIoKzrxZM2RNwek7hnFbXPAkpxG7lLRkESOE9vcYip_voyLyu8I-cukiv_tNBKitzDavml8A7c54186e6zey8KnvXqAQ2SyrYhljy230MevvcToah1OPx8pTw/s400/caffee-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3>Café Turco</h3><br /> </div><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgH2Jv9hGPgOkLQsy2j-v2h5OaEpozhdURWaYOz_OywsejY6nqp8DTsdxC4UeHaDMICZFGkf__eNy9fucvFkUhYOftmY6-akbPXXbuBwlh_ZJDfl6hT512aBBf_7H8sL_8szQm_Fw/s400/falafel-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3><a href="http://desoriente.blogspot.com/2009/04/um-falafel-na-rua-tuval.html">Faláfel</a></h3><br /> </div><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOmchMN7IU5Yg0IupzVVcUI3uM9wXSsPWUfE3i7Kv8A24TOkgsXRe34Wb88KGwKvL_uBcSdQAg7m3j1NKLYSud-ACIuIALypvk1Y0k2baJqjI31RFp-M2PiZOUEPl_78qrOayWkQ/s400/hamin-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3>Tshunt ou Hamin</h3><br /> </div><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGliHDrKpSt64zt0t5zCqD1CoqnzoDLQ_D5EsUJVwSZWQS1QylL4WIEBMEYt_ngZ1oytD_bQIhcx4Cu28E3xPi0WVHrCek3PXhURw7mXYmA1WMdk2mLt-FFv8VvQzGlNjDgpQP0g/s1600/hummus-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3>Humus</h3><br /> </div><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieotRv_ZRkoxA9aLAdNNJHMtAzLwiGkSBuPf8MZk1XmW5oK-CgorGJustV9aKhrIcxyeA_TBSiDP8tOJVflndb9GoXCBHAxQSBR3v-bvq1mnCSmjV9aeeJItFuIPHnJW_1aOx_MA/s1600/salada-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3>Salada Picadinha</h3><br /> </div><br /> <div style="clear: left;"></div><br /> <div style="width: 105px; float: left;"><br /> <img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg08jR2879N64SP6nMfjH4n0nDAvpliTdivVVbPVvwdv0n45Wgi3afiE8oAM67HLNGc73XUhztUPgIKuUaUngKtRP_R0LyfAJmdgXakRNa5ezGDxkmX2YRCVUqzUsbfKVEccmtReg/s1600/shawarma-small.jpg" alt="" height="75" width="100" /><br /> </div><br /> <div style="padding: 1em; margin-left: 110px;"><br /> <h3>Shawarma</h3><br /> </div><br /></div><br /><br />Nenhuma dessas criadas em Israel propriamente dito. Nenhuma consumida especificamente apenas em Israel, e comudas abundantes pelo mundo inteiro. O que me leva a uma pergunta mais interessante:<br /><br /><h2>O que é comida típica?</h2><br /><br /><ul style="list-style-type: lower-alpha; padding-left: 30px;"><br /><li>Seria uma comida cuja <i>origem</i> é a do país/região?</li><br /><li>Seria uma comida cujo consumo se dá caracteristicamente naquele país/região, mas não em outros?</li><br /><li>Ou seria uma comida que simplesmente não existe em outro lugar do mundo?</li><br /></ul><br />Fico me divertindo cá a pensar num restaurante de comida típica brasileira aqui em Israel ou outro lugar do mundo. Teria que incluir no mesmo menu Tutu à mineira, churrasco, vatapá e coxinha. O Brasil é vasto demais para ter um único tipo de cozinha realmente típica. Israel é vasta demais culturalmente para o mesmo.<br /><br />Mas não deixarei meus leitores na mão e vou tentar responder à pergunta de "Quais são as comidas típicas israelenses" baseado nos três critérios que suspeito serem bastante úteis:<br /><br /><h2><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Bamba_%28snack%29">Bamba;</a></h2><br /><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBGIG3JUIH9iS5k5I8mnHG-APvzGcECQL8nQ_PawOFwmAsgpL5bkLlXLhZwofMiZuzRxoXuRbxnbusg8UTLMUOUavkoxFadLg1skLIJo520-Q4-0bg4Q1xG4uw54jG2PLpitwh_w/s320/bamba.png" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408862382493817234" border="0" /><br /><br />Porcarídeo de milho e manteiga de amendoim. Inventado em 1964, tem mais de 25% do mercado interno em Israel. Tem cara de cheetoos, mas tem gosto de... bem, amendoim. Parece estranho para um brasileiro, porque vem em uma forma, cor e embalagem que nós vemos associados com salgadinhos, mas Bamba é doce. No entanto após o segundo ou terceiro pacote é absolutamente viciante.<br /><br />Bamba é a terceira palavra que nenéns israelenses aprendem a falar (às vezes segunda, ou primeira). Já vi pais conversando na frente dos filhos e dizendo "The B. Word" para evitar a catástrofe de terem seus nenéns gritando que querem um pacote.<br /><br /><h2><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Shkedei_marak">Shkedei Marak;</a></h2><br /><br /><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwC7QLejguw1kncaifXuZJIsMOwQWLJGyo8EfnScUD473b0RVTFtNP_2DSGINNr7-dBmLhZ5_8Vq8okJP5446y1KFMki7DowaynyT7NJ_APyyeSPocHvco-U4rSkko4ImUdKdpZQ/s320/shkedei-marak.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408863587235757954" border="0" /><br /><br />São uns micro biscoitinhos amarelos, salgadinhos, com um leve gostinho de caldo de galinha que fazem a alegria de qualquer inverno.<br /><br />Assim como para mim wasabi é o verdadeiro motivo para se comer sushi, Shkedei Marak é o verdadeiro motivo para se comer sopa.<br /><br />Eles são despejados no prato e consumidos junto com a sopa. E rápido, para não encharcarem. O truque é colocar bastante, comer tudo que está ali boiando, e daí colocar mais.<br /><br />Tem quem coma puro. Mas daí são os hardcores.<br /><br /><h2>Café Instantâneo Elite;</h2><br /><br /><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 256px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHbGPWhjK7dM6orGKp-0Lkg4xDUreQyGtfTK_4Ou3EXrr_M6AJRFtjC3LWqFOHqFGVMk_AC1-B0uJQHp7p61t6SRsRSCfCKUqIU_nYYmmm59JyEb_D1P1QOvIYCIQ5_AK97Fq4oQ/s320/instant_coffee_tin_small.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408864109898338258" border="0" /><br /><br />Uma das coisas mais perturbadoras que vi quando cheguei em Israel foi esse café. Tem cara de areia. Tem gosto de areia e só não tem consistência de areia porque é solúvel. Logo depois descobri um fato ainda mais perturbador: israelenses *adoram* esse café.<br /><br /><h2>Café instantâneo à moda israelense;</h2><br /><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 118px; height: 138px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVe_tyvNcGwYFoUJl83Oos5KhzjOmJECxLtaKBR82wQQpYhb-CsNwBUoAsj0McbeXhs9btWyHZ1wRLayME2eVbF8ofIQCcFrqfwqPSd1ckwyIM0PUX9SrT7XRLmB7fJTpX0a08Bg/s320/nojo.png" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408865190788897666" border="0" /><br />Assim: em um copo de papel, coloque uma ou duas colheradas de açúcar. Daí despeje uma colher cheia do café solúvel de sua preferência (a preferência israelense é o café Elite, aí de cima). Encha com 1/3 de água quente. Acrescente leite frio a gosto.<br /><br /><h2>"Mukpatz";</h2><br /><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 198px; height: 132px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_5ONjgZ-rAbNmIbZF32JQzcPK3rOPrqz-XbA9zr7b4H1u-kGPRTVsLgcg4mZA53qWTxIh33AaCeiWjkwZgD3li59aOTs-wxKK4K2VLQofH9EH0tjQyRpLxSGLuSjkdpIGD3CezA/s320/mukpatz.jpeg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5408865736844255442" border="0" /><br />"Mukpatz" é a palavra israelense para "saltado", ou "salteado", ou nesse caso, frito numa Wok. É um nome-código para comida chinesa falsificada. É um monte de verdura de proveniência duvidosa, molho de soja de proveniência duvidosa e uns pedaços de frango de proveniência duvidosa. Frita tudo e diz que é comida chinesa. O cliente ainda é brindado com a opção de colocar tudo dentro de uma baguette e sair comendo. Como come-se disso muito por aqui, como nunca vi disso em outro lugar do mundo, e como imagino que tenha sido inventado aqui mesmo, vale como sendo comida típica.<br /><br />Sugestões de outros? Aceito nos comentários!Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-76704004146285895122009-11-21T20:10:00.011+02:002009-11-21T21:49:23.680+02:00Cachorradas InternéticasA impressionante incapacidade das pessoas em discutir com ponderação assuntos que possam envolver forte carga emocional sempre foi algo que me perturbou. Na Internet, protegidas pela distância física e pelo anonimato as pessoas passam longe do ponto onde já deixaram de ser ridículas, e passam a agir como psicopatas. Os assuntos esses são variados. Vai desde o tema da legalização do aborto, passando por religião, politica nacional, internacional, Oriente Médio, direitos dos homossexuais e, esta semana que passou, o direito de <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u652438.shtml">comer cachorro</a>.<br /><br />Foi um tema bem vindo, porque apesar de ter opinião formada a respeito de vários outros temas controversos (e tenho eu cá minhas opiniões controversas, por motivos controversos), neste tema de culinária canina me vi em um mato sem cachorro.<br /><br />Alias, minha opinião sequer conta aqui. O que quero discutir é a discussão em si, e a dificuldade das pessoas de transpor a barreira emocional e simplesmente usar o cérebro para pensar, raciocinar e usar todas as maravilhosas faculdades logicas que essas atividades proporcionam.<br /><br /><h2>A Historia</h2><br /><br />A discussão começou com a interdição de um abatedouro de cachorros em Suzano. Admito que li a notícia com certa estranheza. Prepara-se churrex e filet-miau no Brasil desde os tempos em que inventaram a fome. Mas abatedouro para mim, no Brasil, era novidade. Não me abalei, não me impressionei e toquei minha vida adiante.<br />Até que me deparei com este <a href="http://blogs.r7.com/andre-forastieri/2009/11/13/cachorro-cozido-e-melhor-que-cachorro-quente/">post</a> daqui.<br />O texto em si nem me chocou, nem me emocionou nem me perturbou. Foi um texto escrito em tom de gaiato e sincero que eu pessoalmente não consegui concordar nem descordar.<br /><br />Já os comentários me perturbaram. Não cheguei a ler os mais de 300 comentários (até o dia de hoje), mas os que eu li eram raivosos, rancorosos, violentos, ameaçadores. Nenhum - repito - <b>nenhum</b> deles especificava o porque do comentarista ser contra comer cachorros, como se fosse óbvio, e o blogueiro um delinquente que não está entendendo nada.<br /><br /><h2>Usando o Cérebro.</h2><br /><br />Me propus a analisar não o fato de comer-se cachorros ou não, não o fato disso ser ético, bonito, gostoso ou não. Simplesmente analisar a reação assustadora das pessoas que comentaram neste caso (e fazer uma analogia para outros assuntos mais pesados). Mas para isso, devo antes deixar claro que, de óbvio, o assunto não tem nada.<br /><br />Consensos, quando não são baseados em fatos são na verdade uma enorme montanha de preconceitos. Por que ninguém chia quando alguém come carne de porco no Brasil? O que tem o porco de inferior ao cachorro que faz com que seja perfeitamente aceitável não apenas comê-lo, mas criá-lo para este fim?<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE6p3a3hDAc3Gf64VSm1YcFQQuyqLuowJahjvHJ1MwkuASamsJx49UFK9xby1K_kReA2j_zpEx6kPXMexV8KJj9zAdUI6yfzLA7KhxK7hyfQTpLm_pGEO-RpSXHQv5yb-ZevibRQ/s1600/bacon.jpg"><img style="margin: 0pt 0pt 10px 10px; float: right; cursor: pointer; width: 314px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE6p3a3hDAc3Gf64VSm1YcFQQuyqLuowJahjvHJ1MwkuASamsJx49UFK9xby1K_kReA2j_zpEx6kPXMexV8KJj9zAdUI6yfzLA7KhxK7hyfQTpLm_pGEO-RpSXHQv5yb-ZevibRQ/s320/bacon.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5406622711139550866" border="0" /></a><br />Porcos são e foram em várias situações e locais animais de estimação. São fofinhos e são <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u652474.shtml">extremamente inteligentes</a>, podem servir para prestar vários serviços. Simplesmente não consigo encontrar nenhum fato, que não seja simplesmente cultural, que caracterize o porco como sendo biologicamente em nível inferior ao cão.<br /><br />Poderia escrever odes às vacas. Vacas podem não ser extremamente inteligentes, mas são carinhosas, tem personalidade e podem vir a ser até bem fofinhas. Vários amigos meus, urbanos até os ossos, ao virem passar um ano aqui em Israel, voluntariando em um kibutz, simplesmente se apaixonaram pelas vacas que cuidaram, chamando pelo nome e tudo mais.<br /><br />E assim fico tentando imaginar por que nos causa ojeriza (pelo menos a alguns de nós) comer carne de cachorro. Certamente a resposta não é biológica, tampouco é obvia. E certamente não deveria ser fato tido como garantido.<br /><br /><h2>Porrada da Brava.</h2><br /><br />Quando pessoas tem seus brios culturais atacados, perdem as estribeiras. <i>"Como assim comer cachorro?!"</i> Um consenso não deveria nem sequer ser questionado. Ou deveria?<br />Não.<br />Realmente não deve ser questionado, afinal, se fosse não se chamaria consenso. Consensos e ideologias existem como uma especie de piloto automático. Ao invés de se gastar tempo, vitaminas e fósforo do cérebro pensando, usam-se consensos para nortear a vida, tomar decisões importantes de maneira imediata.<br /><br />Consensos e ideologias são dispositivos tão poderosos na psique humana que provavelmente já foram muito úteis, até mesmo vitais na história evolucionária humana. Por exemplo: se é consenso não comer cachorro (ou porco, como aqui no Oriente Médio, ou vacas, na Índia), melhor nem questionar - afinal:<br /><br /><ol><br /><li>deve ter um motivo para ter se tornado um consenso, não?<br /></li><br /><li>a gente vem comendo nossa comidinha e ninguém morre disso. De repente, assim, sem explicação, sair comendo cachorro? Pode dar nó nas tripas. Melhor manter-se dentro do consenso.</li><br /></ol><br />Isso explica o fato das pessoas não questionarem seus próprios preconceitos, consensos e hábitos. Só não explica o porque de ficarem tao ofendidas quando alguém o faz.<br /><br />Já vi bons amigos sem nunca mais se falar por uma discussão a respeito do direito de aborto. Uma pancadaria a respeito da liberação das drogas e milhares (provavelmente milhões) de pessoas assassinadas por motivos religiosos.<br /><br /><h2>Ah! Se as pessoas lessem Platão...!</h2><br /><br />A grande parte dos maiores maus entendidos a que tenho presenciado são de ordem lógica. Lógica pura. Escreve-se uma coisa, leitores a leem e interpretam do jeito que querem, assassinando mais de 3000 anos de estudos de lógica. Aqui vão alguns exemplos;<br /><br /><ul><br /><li>Generalização do caso particular: "Há um carioca que coloca katchup na pizza". Conclusão: "Todo carioca põe katchup na pizza".<br /></li><br /><li>Generalização invertida: "Todo míope usa óculos". Conclusão: "...portanto todos que usam óculos são míopes."<br /></li><br /><li>Generalização de um caso particular com inversão: "Há um carioca que coloca katchup na pizza". Conclusão: "pôs katchup na pizza?! Certeza é carioca!"</li><br /></ul><br />Outros exemplos clássicos envolvem a estatística. Estatística é uma parte da matemática complicada e, ao contrário do que se pensa, muito pouco intuitiva. Erros estatísticos em geral são uma compilação de achismos baseados na experiência, ou nas aparências.<br /><br />Exemplos disso são pessoas vendo na propaganda da loto na televisão, ganhadores sorridentes e felizes em uma entrevista. Pensam: "Eles ganharam. Nós também podemos ganhar!". Se TODOS os perdedores forem entrevistados, cinco segundos de entrevista cada um, ficaríamos ANOS na frente da televisão, sem fazer absolutamente mais nada (nem dormir) vendo essas entrevistas. A ideia de que ganhar na loto é trivial diminuiria significavelmente.* É o mesmo processo que faz pessoas terem muitíssimo mais medo de voar de avião do que andar de carro, apesar do segundo ser várias vezes mais perigoso e mortal.<br /><br />Erros estatísticos <i>"provam"</i> que comer cachorro é errado: afinal come-se muito mais porcos que cachorros, não? Não. Ou melhor: não sei. Ou melhor ainda: <a href="http://www.animalpeoplenews.org/03/9/dogs.catseatenAsia903.html">é provável que ninguém saiba</a>, pois não existem números confiáveis. Mas assim nos parece, afinal, nas nossas redondezas, costuma-se ver muito mais gente comendo carne de porco que carne de cachorro.<br /><br />É o mesmo tipo de erro que apresenta Israel como sendo um lugar perigosíssimo (talvez ainda não tanto quanto Gaza), onde a única coisa que há são guerras e morte. Muitíssimo mais perigoso que, por exemplo, o Rio de Janeiro. (No Rio de Janeiro morreram apenas em confrontos policiais - sem contar aqui assassinatos civis, afinal estou falando de uma guerra - <a href="http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4089944-EI5030,00-Rio+tem+mil+mortos+em+confrontos+com+a+policia+desde.html">mais de 10000 pessoas</a>. Desde 2000, morreram entre palestinos e israelenses pouco mais de <a href="http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4089944-EI5030,00-Rio+tem+mil+mortos+em+confrontos+com+a+policia+desde.html">12 mil</a>). É verdade que ver o Rio nos noticiários como sendo violenta é figurinha carimbada. Aliás, tão carimbada, que assassinatos por lá já faz mais de meio século já não são mais notícias. Já Israel nunca nem jamais aparece em outro contexto que não o do conflito - e quanto mais armado e violento, mais aparece.<br /><br />Erro estatístico é fácil de se transformar em um pré julgamento. Seguindo exatamente a mesma lógica (ou falta de) que apresentei logo acima, conclui-se que negros são bandidos. Pelo sim, pelo não, atravessa-se a rua para a outra calçada se a rua estiver meio escura e meio vazia. Pré julgamento esse que quando é sobre uma pessoa, baseada em suas origens, se chama de racismo.<br /><br /><span style="font-style: italic;">"Oras! Você já viu um japonês burro? Um judeu pobre? Uma loira formada em física quântica?"</span> e assim por diante. Colocando assim parece tudo muito óbvio. Mas quando se fala da reação raivosa de gente que usa consensos ao invés de usar a cabeça nada é muito óbvio.<br /><br />O <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u649373.shtml">caso</a> da Geisy Arruda é perfeito para ilustrar. Antes, durante e (pasmaram as feministas) até mesmo <a href="http://www.botecosujo.com/2009/11/e-os-inimigos-eram-elas.html">depois do linchamento moral da moça</a>, muita gente (talvez a maioria) seguia achando que quem estava errado nesta história toda era a aluna. Afinal <span style="font-style: italic;">"quem anda de vestido curto cor-de-rosa choque está pedindo para ser escorraçado, não?"</span>, porque <span style="font-style: italic;">"quem se veste assim é puta"</span>.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglQcQWYhJ-4piqbySEo3QjaU-J_cU6yXVs5iSZI2XVa4FGKAZjrYLtWV7WRdYVZP-4cCJ2KFiAbWAY3PkiCmBF4FzdgfeGzq_t1xpNGGw6ooseOcWTkDu-SChsxjGgHlHW4YMRxQ/s1600/ears.jpg"><img style="margin: 0pt 10px 10px 0pt; float: left; cursor: pointer; width: 200px; height: 130px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglQcQWYhJ-4piqbySEo3QjaU-J_cU6yXVs5iSZI2XVa4FGKAZjrYLtWV7WRdYVZP-4cCJ2KFiAbWAY3PkiCmBF4FzdgfeGzq_t1xpNGGw6ooseOcWTkDu-SChsxjGgHlHW4YMRxQ/s200/ears.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5406630036771812658" border="0" /></a><br /><br /><h2>Prá porrada! Prá porrada!</h2><br /><br />Se um sujeito vive sob um ideal e um consenso, vai lutar como uma fera para não ver seu mundinho desarmar-se. Uma pessoa é facilmente manipulável para agir de maneira violenta ao ter seu consenso questionado. Uma turba é mais ainda. Especialmente porque consensos tem seu respaldo pelo fato de serem aceitos pelo grupo. <i>"Como assim eu estou errado? Eu? E todos esses meus amigos e colegas e familiares? Tudo completamente errado e você certo? Oras! Quem é você?"</i> E assim, sem pensar muito (na maioria das vezes, sem pensar <b>nada</b>) o sujeito parte para a ignorância, e despeja toda raiva no questionador. Foi assim com o blogueiro e sua vontade de provar cachorro, foi assim com pobre moça da Uniban.<br /><br />As vezes a briga se divide em times. Os Petistas e os Tucanos. Os comunistas e os capitalistas, os Flamenguistas e os Fluminenses. Os pró-vida e os pró-escolha. Os pró-Israel e os pró-palestinos.<br /><br />O aglutinamento de todos os pensamentos possíveis em duas vertentes é comum, pois dicotomia, dualismo, dualidade é mais fácil de virar um consenso do que um mundo multifacetado e complexo. E, como já cansei de dizer, o hábito é o de pensar o menos possível e usar os instintos o quanto mais.<br /><br />Às vezes, numa briga desse tipo, é mais importante mostrar que o outro lado está errado do que postar-se como estando certo. Outra tática bastante comum é desqualificar o <i>"adversário"</i>. Para isso vale xingar a mãe e citar preferências sexuais. Nada relevante para o argumento.<br /><br /><i>"Comer cachorrinhos é errado porque... porque... porque... Oras! Porque você é quem está dizendo que comeria cachorrinhos, e você é um monstro!"</i><br /><br /><h2>Táticas de Guerra</h2><br /><br /><h4>Clichês;</h4><br /><br />Na verdade veio em boa ora este novo assunto porque os velhos já estão saturados de clichês. Clichês são frases de efeito gravadas na memória de milhões de idiotas torcedores de certo bloco que são imediatamente usadas como trunfo em meio à discussão. Entender o significado da frase é dispensável, e conhecer a origem dos fatos que ele apresenta também é desnecessário para um bom brigão.<br /><br /><i>"Fetos já tem pensamentos e sentimentos dentro da barriga da mãe!"</i> contra <i>"O corpo é da mulher, e ela tem direito de fazer com ele o que quiser"</i>. Ambos os chavões são populares, suas acuracidades manipuladas de forma a parecerem absolutas e de difícil resposta. Não se baseiam em qualquer dado científico, moral, filosófico ou lógico.<br /><br /><h4>Citar fontes;</h4><br /><br /><i>"Li na Veja"</i>, ou <i>"Olhe este artigo na Wikipédia"</i>, <i>"foi meu avozinho que falou. E ele nunca mente"</i>, são comuns. Já me deparei até com <i>"foi Deus que me disse!"</i>.<br /><br />Não entro em discussões acadêmicas. Não procuro fontes absolutas nem sequer costumo checar-las muito. Mas se alguém faz um comentário malicioso sobre determinado assunto (religião, ou ateísmo, ou sobre o conflito no oriente médio, ou sobre comer cachorros) e usa como respaldo uma citação, é importante verificar exatamente quais são as motivações do autor citado. No caso do conflito do oriente médio, ou história de Israel (assuntos que posso discutir com relativo conhecimento, e portanto sei) é difícil encontrar até mesmo um acadêmico que já não tenha tomado um partido bem antes de iniciar a pesquisa. Normalmente por motivos religiosos, motivos psicológicos (culpa, medo, ansiedade) e que cavucou a História para encontrar dados que provem a teoria (ao invés do método científico de gerar teorias para explicar os fatos). Raivosos discutidores profissionais da Internet adoram gritar que isso não invalida os dados. Gritam tão alto que esquecem que nenhum dado vive sem seu contexto.<br /><br /><h4>Mudar de assunto;</h4><br /><br />A melhor colocação desta tática eu vi no filme <i>"Obrigado por Fumar"</i>. O trecho relevante começa no vídeo abaixo depois dos 5:45 minutos. Mas o filme está <a href="http://www.youtube.com/watch?v=4HC3xwlfcFM&feature=PlayList&p=D8801B879A73CD5D&playnext=1&playnext_from=PL&index=1">todo</a> no YouTube, e vale à pena vê-lo todo.<br /><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/iOPUUhZau2c&hl=en_US&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/iOPUUhZau2c&hl=en_US&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="344" width="425"></embed><a class="pmphvsuvwdmovkvdyjgx" href="http://www.youtube.com/v/iOPUUhZau2c&hl=en_US&fs=1&"></a><a class="pmphvsuvwdmovkvdyjgx" href="http://www.youtube.com/v/iOPUUhZau2c&hl=en_US&fs=1&"></a></object><br /><br /><h4>Xingar a mãe;</h4><br /><br />Prá falar a verdade, existem várias variações de xingar a mãe que para um desatento pode parecer como mudança de assunto. Fica por conta do interlocutor aproveitar para cair na porrada também, ou simplesmente deixar prá lá.<br /><br /><h2>Mas por que não dá certo?</h2><br /><br />O mais importante motivo para uma discussão, seja fora da Internet, mas especialmente dentro simplesmente virar uma gritaria entre surdos, é o que eu chamo de <i>Teoria da Brecha</i>.<br /><br />Há uma nítida impressão de que cada vez que se concorda com o que o interlocutor afirma, dá-se um ponto para ele, e ao seu argumento. A impressão é a de que quanto mais certo ele estiver, mais errado você estará. Abrir uma pequena brecha para o <i>"inimigo"</i> é impensável. Isso simplesmente faz com que pessoas razoavelmente inteligentes neguem o óbvio.<br /><br />Exemplos:</br><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4ZsttoOm0YGxZVlCC_n9XW7HQd0Wd_WUBbC8jZE1CWLD5f68_HDcu4Bw6Hq-ZrsFlJmgmjT9D9aEC4B5iM74rdVoZE3q1UWJEhGwXxywW0wejwIEfKCV7HaknJyHr98T5fIAv5Q/s1600/girl-and-cow.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 197px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4ZsttoOm0YGxZVlCC_n9XW7HQd0Wd_WUBbC8jZE1CWLD5f68_HDcu4Bw6Hq-ZrsFlJmgmjT9D9aEC4B5iM74rdVoZE3q1UWJEhGwXxywW0wejwIEfKCV7HaknJyHr98T5fIAv5Q/s200/girl-and-cow.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5406643546897796274" /></a><br /><ul><br /><li>Numa discussão sobre o direito do aborto, um <i>"pró-escolha"</i>, em meio ao argumento, afirma que um óvulo não é um ser humano. Imediatamente o <i>"pró-vida"</i> imagina estar abrindo uma brecha para o outro que vai acabar afirmando também que um óvulo recém fertilizado <b>também</b> não é um ser humano, e portanto nega que um óvulo <b>não</b> seja um ser humano.</br></li><br /><li>Um petista se recusa a aceitar o argumento de um PSDBista de que a situação econômica mundial nos últimos oito anos foi muito favorável. Vai recusar porque acha que isso vai ser usado de argumento contra o Lula de alguma forma. Mesmo que seja a mais absoluta verdade, e não tenha muito que ver com a discussão em questão.</br></li><br /><li>Um pró Árabe se nega veementemente a aceitar que os governos de maioria muçulmana no mundo ou são teocracias ou presidências totalitárias corruptas e hereditárias. Não vai aceitar não porque seja mentira ou exagero, mas porque acha que por estar aceitando isso, vai abrir uma brecha para o argumento do interlocutor, mesmo que este esteja a falar mal de Israel.</br></li><br /><li>Finalmente, um "amiguinho dos cachorros" vai se recusar a admitir que vaquinhas e coelhinhos também são fofos, que porcos também são inteligentes e que comer peixe cru no Brasil, há 20 anos atrás também era considerado nojento.</li><br /></ul><br /><br />O fim da linha psicológico simplesmente não permite conclusões lógicas. Não parece haver solução próxima, até as pessoas passarem a argumentar e a tentar entender com o cérebro, e não com o coração.<br /><br />* - Boa parte deste argumento marcado pelo asterisco, incluindo exemplos foi retirado do <b>fenomenal</b> vídeo de Dan Gilbert, no TED:<br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/c-4flnuxNV4&hl=en_US&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/c-4flnuxNV4&hl=en_US&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-56194604763129842502009-09-23T12:55:00.004+03:002009-09-23T13:14:35.852+03:00Requiém de um Ano Novo<span style="font-style: italic;">Este post foi inteiramente escrito com essa música abaixo como trilha sonora. Por favor, clique "play" antes de começar a ler.</span><br /><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/vs1DX32t38c&hl=en&fs=1&"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/vs1DX32t38c&hl=en&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="344" width="425"></embed><a class="okkpreuvojncpjtfurtw" href="http://www.youtube.com/v/vs1DX32t38c&hl=en&fs=1&"></a><a class="okkpreuvojncpjtfurtw" href="http://www.youtube.com/v/vs1DX32t38c&hl=en&fs=1&"></a></object><br /><br />Eu vejo a Terra, em altíssima velocidade, urrando em silêncio pelo espaço, a mais de 107 mil quilômetros por hora, levando a Lua junto com ela, numa ânsia de engolir todos os 940 milhões de quilômetros que percorre ao redor do Sol, a cada ano. A Terra recomeça essa corrida a cada 365.25 dias, já faz mais de 4.6 bilhões de anos.<br /><br />A Terra não segue um Sol parado, fixo no tecido do universo. Em cosmologia não existe nada parado. O Sol ataca desesperados 225 quilômetros por segundo ao redor do núcleo galático, percorrendo 163 mil anos luz a cada 250 milhões de anos. O Sol e outras estrelas que o rodeiam, 300 bilhões delas. Outras estrelas e poeira cósmica, nuvens de gás, berçários de novas estrelas, e fósseis de estrelas que já não fundem mais seu combustível nuclear, e servirão para adubar de metais e semimetais novos sistemas estelares.<br /><br />Conosco o Sol nos leva neste passeio gravitacional ao redor do núcleo galático, onde se encontra um monstruoso buraco negro de 3.7 milhões de vezes mais massivo que o Sol.<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghZ6uUxsMDiyNDtWXs24J021orcG51Yybo6-MfrLFu7YiEHoBnnDfNihELkLvmdZsT02O_xfbjg2how6EXVTb9T8lOuNjf036i1ts-_zl-HPlUF_rtfemaKSj0nHFpEqc_6EQXtg/s1600-h/galaxy.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 310px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghZ6uUxsMDiyNDtWXs24J021orcG51Yybo6-MfrLFu7YiEHoBnnDfNihELkLvmdZsT02O_xfbjg2how6EXVTb9T8lOuNjf036i1ts-_zl-HPlUF_rtfemaKSj0nHFpEqc_6EQXtg/s400/galaxy.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5384603108453475138" border="0" /></a><br />E a Via Láctea, nossa galáxia também não é fixa no espaço e avança. Ela, junto com outras galáxias nas redondezas se afasta de todo o resto a 600 quilômetros por segundo, em uma viagem que ao que sabemos hoje, não tem volta, e acabará por pulverizar todo o conteúdo do universo em uma expansão sem fim.<br /><br />Esta mesma Terra que segue esta carona gravitacional não é sólida. É quase uma esfera de silicatos e metais derretidos recobertos por uma fina crosta que boia sobre esse magma quente. A crosta se move, às vezes afunda, às vezes colide com outro pedaço maciço, e ao longo de milhões de anos gera formas geológicas inéditas, e aniquila outras.<br /><br />Sobre esta crosta vivem literalmente milhões diferentes de espécies de seres vivos, entre animais, vegetais, fungi, bactérias e outros. Vários surgindo a cada ano, várias desaparecendo para sempre do livro da vida, ao longo desses 3.5 bilhões de anos de vida sobre a Terra.<br /><br />Entre esses milhões, existe uma espécie, relativamente nova (menos de 150 mil anos) que não entende que não existem "<span style="font-style: italic;">lugares sagrados</span>" nem na perspectiva do cosmos, nem da geologia - e que conta seus dias desde a "<span style="font-style: italic;">criação</span>" em algo como cinco milhares de anos.<br /><br />A Lua crescente que vejo da praia me parece sorrir, indulgente dos seus 4.5 bilhões de anos de idade, pegando carona com a Terra, com o Sol e com a Via Láctea, igualzinho a essa espécie, mas infinitamente mais humilde, porque não acha nada.<br /><br />Feliz 5770Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-7895739819536098212009-09-08T16:25:00.002+03:002009-09-08T16:40:49.272+03:00Da noite quando conheci Cid Moreira na casa do Embaixador- Ele nunca entendeu uma única palavra do que ele lia - me avisou o <a href="http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/nahum/veja_mais/noticias.html?ini=0">Nahum Sirotsky</a> a respeito do Cid Moreira.<br /><br />- E daí? - Eu dei ombros - ele passou minha vida inteira me dando boa noite e fez uma carreira disso. Não é para qualquer um, né?<br /><br />O Nahum poderia ter dito que o Cidão dava boa noite para todo mundo. Eu responderia que isso não fazia diferença. Eu estava lá na sala de estar ouvindo o "boa noite", e não importava que havia mais umas 60 milhões de pessoas ouvindo o boa noite também.<br /><br />Agora quem estava na sala de estar era o próprio Cid Moreira. Que me conste, esta foi a primeira vez na minha vida que eu dei boa noite para ele. Dei boa noite e ainda tirei uma foto - coisa que o Cid Moreira nunca tinha feito até então: tirar uma foto comigo.<br /><br />E como é o Cid Moreira? Me pareceu em melhor estado do que o Rostbeef que eu tentava equilibrar no prato quando fui ler a mensagem que o <a href="http://www.google.com/profiles/gabriel.toueg">Zé Toueg</a> me mandou avisando que o Cid Moreira estava na festa. O prato era meu segundo. O primeiro constava de muito vatapá, arroz, caldinho de feijão e provavelmente mais um monte de coisa boa que não como faz tempo e que não me lembro agora porque comecei a beber cedo. E comecei a beber cedo porque cheguei cedo, e cheguei cedo para poder beber bastante. A lógica circular se deve ao fato de eu ainda pagar impostos no Brasil.<br /><br />São impostos importantes, que possibilitam os governos (municipal estadual e federal) a construírem escolas, estradas, hospitais, fundo mútuo de corrupção e pagar propaganda eleitoral. Como moro em Israel já faz mais de doze anos, não tenho tido muita oportunidade de fazer valer meus direitos de usar, no Brasil, de escolas, estradas, hospitais e muito menos fundo mútuo de corrupção. Quem me dera poder usufruir pelo menos da propaganda eleitoral que meu rico dinheirinho faz possível. "Vou, pelo menos, usar os fundos federais para beber um pouco", imaginei.<br /><br />Pelos meus cálculos o governo federal ainda me deve várias feijoadas e algumas garrafas de whiskey. Mas como me proporcionou dar boa noite para o Cid Moreira e ainda falar sobre isso com o Nahum Sirotsky poucos minutos depois, me sinto quase ressarcido.<br /><br />- Esse meu joelho está fodido. - Explicava o Nahum. - Foi um <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Gush_Katif">Gush Katif</a>. Eu estava por lá e me apaixonei por umas vacas que eu vi. Fui me aproximar para ver melhor e um guri árabe me acertou uma pedrada. O outro joelho ficou ruim depois.<br /><br />Ele contava sentado, segurando a bengala, muito animado, falando sobre tudo um pouco. Eu tentava acompanhar, olhando quem chegava, vendo quem estava lá, procurando conhecidos e de olho na fila para as carnes, que eu já tinha decidido que não ia deixar de pegar.<br /><br />Uma obrigação cívica me fez deixar o prato ainda vazio de lado e, parado no meio da fila fui cantar o Hino Nacional. Fazia tempo que eu não ficava em pé, em posição de sentido junto com vários outros compatriotas cívicos, cantando tudo errado o Hino. Se é uma obrigação cívica de todo brasileiro cantar errado o Hino Nacional enquanto se segura um prato vazio na frente da mesa das carnes na casa do embaixador, bem como pagar impostos e ver propaganda eleitoral, então era o que eu ia fazer, se era isso necessário para fazer valer todo o vinho que eu estava bebendo (e que, bem como escolas, estradas, hospitais e a propaganda eleitoral, era eu quem estava pagando - embora só usufruísse mesmo do vinho).<br /><br />Os discursos vieram depois dos dois Hinos Nacionais (do Brasil, e de Israel). Eu já estava bem estabelecido lá no fundo, com mais um copo de vinho e um prato cheio de carne e de farofa. O Embaixador Brasileiro em Israel cumpriu seu dever cívico em dar vergonha alheia em qualquer um que entendesse só um pouquinho de <span style="font-style: italic;">realpolitiks</span>. Como todo cidadão, imagino que o Embaixador deva cumprir seus deveres cívicos, tais como cantar o hino errado e pagar impostos. Porém, como funcionário do Itamaraty, acumula mais esta obrigação: a de causar um enorme constrangimento, falando nada com coisa nenhuma, paz no oriente médio e até pré-sal.<br /><br />Pouco depois de eu terminar de comer, começou a falar o representante do governo israelense, o Ministro das Finanças <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Yuval_Steinitz">Yuval Steinitz</a>. O Ministro das Finanças do governo de Israel é um israelense, e portanto tem deveres cívicos bastante distintos, como cantar o Hino de Israel errado. Eu por exemplo, tive que cantar ambos os hinos errado, como vários outros cidadãos dos dois países - embora eu fosse o único a fazê-lo com um prato vazio na mão. Além disso, ao contrário de todos lá, Yuval Steinitz não só paga impostos como também decide como serão usados. Ou pelo menos deveria, porque não é ele quem faz isso: é o Nataniahu. Ou melhor, a cúpula do partido do Nataniahu. Enfim, além de escolas, hospitais e estradas, impostos aqui vão para conflitos armados, postos avançados na Cisjordânia, e pouca coisa para propaganda eleitoral, ou para me alimentar com vinho nacional.<br /><br />Yuval Steinitz, além de obrigações cívicas parecidas com a dos brasileiros, como cantar o hino errado e pagar impostos, teve adicionado obrigações cívicas que são só israelenses, como servir exército e tratar brasileiros pelos seus clichés. E bem como o Embaixador, tem a obrigação de causar vergonha alheia no Sete de Setembro.<br /><br />Seu discurso foi tão estranho quanto improvável. Citou uma copa do mundo no Kibutz Bror Chail, um jogo com a Holanda e nem sequer fez menção ao pró-sal brasileiro, tão festejado pelo Embaixador em seu discurso anterior.<br /><br />Lá pelas tantas desisti de ouvir, fui buscar mais vinho e procurar o Zé Toueg. Pela enésima vez alguém me perguntou por que eu chamo o Zé de Zé, já que o nome dele é Gabriel.<br /><br />- Porque Gabriel sou eu. E eu cheguei antes. Tanto no mundo quanto em Israel. Portanto tenho preferência.<br /><br />- E como ele te chama?<br /><br />- Emanuelson. Ele Zé, eu Emanuelson e ficamos de acordo.<br /><br />Só que Emanuelson nunca pegou, enquanto eu realmente não consigo chamar ele de Gabriel e para todos os efeitos já virou Zé.<br /><br />Achei o Cid Moreira antes de achar o Zé, que estava lá sentado ao lado do Nahum, na beira da piscina. E depois do Cid Moreira, eu vi o <a href="http://www.idanraichelproject.com/en">Idan Raichel</a>, e depois do Idan Raichel, eu vi um garçon com uma bandeija enorme cheia de quindins, e daí eu simplesmente não vi mais nada.<br /><br />Comi quindins até o ponto em que eu passei a ver sentido na vida e até no Hino Nacional.<br /><br />- Cheiro de guerra é cheiro de merda. - Me avisou o Nahum enquanto a gente tomava guaraná. - Quando cai uma bomba do lado de uma pessoa, ela perde total controle das funções intestinais. - E continuou: - Em 1973, eu fui fazer uma reportagem nas linhas perto da fronteira do Sinai com o resto do Egito. Eu fui entrevistar o cara dentro de uma cratera criada por uma bomba, com a esperança na máxima que uma bomba não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas caiu. Ali mesmo. Já fechei uns seis contratos para escrever minhas memórias. Mas não escrevo.<br /><br />- Por que?<br /><br />- Porque só sei reportar o que vi. Não sei escrever sobre o que eu senti.<br /><br />- Mas o que você sentiu?<br /><br />- Dor de ouvido, e cheiro de merda.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-16732733042804227652009-08-16T23:32:00.002+03:002009-08-16T23:42:30.212+03:00Anarco-Sindicalismo de base<div top="19" left="593" down="false" style="position: absolute; display: none; opacity: 1;" id="identi-interface"><div id="identi-top-pannel"><img id="identi-logo" src="data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAAG0AAAA8CAIAAADjSKNTAAAACXBIWXMAAAsTAAALEwEAmpwYAAAKT2lDQ1BQaG90b3Nob3AgSUNDIHByb2ZpbGUAAHjanVNnVFPpFj333vRCS4iAlEtvUhUIIFJCi4AUkSYqIQkQSoghodkVUcERRUUEG8igiAOOjoCMFVEsDIoK2AfkIaKOg6OIisr74Xuja9a89+bN/rXXPues852zzwfACAyWSDNRNYAMqUIeEeCDx8TG4eQuQIEKJHAAEAizZCFz/SMBAPh+PDwrIsAHvgABeNMLCADATZvAMByH/w/qQplcAYCEAcB0kThLCIAUAEB6jkKmAEBGAYCdmCZTAKAEAGDLY2LjAFAtAGAnf+bTAICd+Jl7AQBblCEVAaCRACATZYhEAGg7AKzPVopFAFgwABRmS8Q5ANgtADBJV2ZIALC3AMDOEAuyAAgMADBRiIUpAAR7AGDIIyN4AISZABRG8lc88SuuEOcqAAB4mbI8uSQ5RYFbCC1xB1dXLh4ozkkXKxQ2YQJhmkAuwnmZGTKBNA/g88wAAKCRFRHgg/P9eM4Ors7ONo62Dl8t6r8G/yJiYuP+5c+rcEAAAOF0ftH+LC+zGoA7BoBt/qIl7gRoXgugdfeLZrIPQLUAoOnaV/Nw+H48PEWhkLnZ2eXk5NhKxEJbYcpXff5nwl/AV/1s+X48/Pf14L7iJIEyXYFHBPjgwsz0TKUcz5IJhGLc5o9H/LcL//wd0yLESWK5WCoU41EScY5EmozzMqUiiUKSKcUl0v9k4t8s+wM+3zUAsGo+AXuRLahdYwP2SycQWHTA4vcAAPK7b8HUKAgDgGiD4c93/+8//UegJQCAZkmScQAAXkQkLlTKsz/HCAAARKCBKrBBG/TBGCzABhzBBdzBC/xgNoRCJMTCQhBCCmSAHHJgKayCQiiGzbAdKmAv1EAdNMBRaIaTcA4uwlW4Dj1wD/phCJ7BKLyBCQRByAgTYSHaiAFiilgjjggXmYX4IcFIBBKLJCDJiBRRIkuRNUgxUopUIFVIHfI9cgI5h1xGupE7yAAygvyGvEcxlIGyUT3UDLVDuag3GoRGogvQZHQxmo8WoJvQcrQaPYw2oefQq2gP2o8+Q8cwwOgYBzPEbDAuxsNCsTgsCZNjy7EirAyrxhqwVqwDu4n1Y8+xdwQSgUXACTYEd0IgYR5BSFhMWE7YSKggHCQ0EdoJNwkDhFHCJyKTqEu0JroR+cQYYjIxh1hILCPWEo8TLxB7iEPENyQSiUMyJ7mQAkmxpFTSEtJG0m5SI+ksqZs0SBojk8naZGuyBzmULCAryIXkneTD5DPkG+Qh8lsKnWJAcaT4U+IoUspqShnlEOU05QZlmDJBVaOaUt2ooVQRNY9aQq2htlKvUYeoEzR1mjnNgxZJS6WtopXTGmgXaPdpr+h0uhHdlR5Ol9BX0svpR+iX6AP0dwwNhhWDx4hnKBmbGAcYZxl3GK+YTKYZ04sZx1QwNzHrmOeZD5lvVVgqtip8FZHKCpVKlSaVGyovVKmqpqreqgtV81XLVI+pXlN9rkZVM1PjqQnUlqtVqp1Q61MbU2epO6iHqmeob1Q/pH5Z/YkGWcNMw09DpFGgsV/jvMYgC2MZs3gsIWsNq4Z1gTXEJrHN2Xx2KruY/R27iz2qqaE5QzNKM1ezUvOUZj8H45hx+Jx0TgnnKKeX836K3hTvKeIpG6Y0TLkxZVxrqpaXllirSKtRq0frvTau7aedpr1Fu1n7gQ5Bx0onXCdHZ4/OBZ3nU9lT3acKpxZNPTr1ri6qa6UbobtEd79up+6Ynr5egJ5Mb6feeb3n+hx9L/1U/W36p/VHDFgGswwkBtsMzhg8xTVxbzwdL8fb8VFDXcNAQ6VhlWGX4YSRudE8o9VGjUYPjGnGXOMk423GbcajJgYmISZLTepN7ppSTbmmKaY7TDtMx83MzaLN1pk1mz0x1zLnm+eb15vft2BaeFostqi2uGVJsuRaplnutrxuhVo5WaVYVVpds0atna0l1rutu6cRp7lOk06rntZnw7Dxtsm2qbcZsOXYBtuutm22fWFnYhdnt8Wuw+6TvZN9un2N/T0HDYfZDqsdWh1+c7RyFDpWOt6azpzuP33F9JbpL2dYzxDP2DPjthPLKcRpnVOb00dnF2e5c4PziIuJS4LLLpc+Lpsbxt3IveRKdPVxXeF60vWdm7Obwu2o26/uNu5p7ofcn8w0nymeWTNz0MPIQ+BR5dE/C5+VMGvfrH5PQ0+BZ7XnIy9jL5FXrdewt6V3qvdh7xc+9j5yn+M+4zw33jLeWV/MN8C3yLfLT8Nvnl+F30N/I/9k/3r/0QCngCUBZwOJgUGBWwL7+Hp8Ib+OPzrbZfay2e1BjKC5QRVBj4KtguXBrSFoyOyQrSH355jOkc5pDoVQfujW0Adh5mGLw34MJ4WHhVeGP45wiFga0TGXNXfR3ENz30T6RJZE3ptnMU85ry1KNSo+qi5qPNo3ujS6P8YuZlnM1VidWElsSxw5LiquNm5svt/87fOH4p3iC+N7F5gvyF1weaHOwvSFpxapLhIsOpZATIhOOJTwQRAqqBaMJfITdyWOCnnCHcJnIi/RNtGI2ENcKh5O8kgqTXqS7JG8NXkkxTOlLOW5hCepkLxMDUzdmzqeFpp2IG0yPTq9MYOSkZBxQqohTZO2Z+pn5mZ2y6xlhbL+xW6Lty8elQfJa7OQrAVZLQq2QqboVFoo1yoHsmdlV2a/zYnKOZarnivN7cyzytuQN5zvn//tEsIS4ZK2pYZLVy0dWOa9rGo5sjxxedsK4xUFK4ZWBqw8uIq2Km3VT6vtV5eufr0mek1rgV7ByoLBtQFr6wtVCuWFfevc1+1dT1gvWd+1YfqGnRs+FYmKrhTbF5cVf9go3HjlG4dvyr+Z3JS0qavEuWTPZtJm6ebeLZ5bDpaql+aXDm4N2dq0Dd9WtO319kXbL5fNKNu7g7ZDuaO/PLi8ZafJzs07P1SkVPRU+lQ27tLdtWHX+G7R7ht7vPY07NXbW7z3/T7JvttVAVVN1WbVZftJ+7P3P66Jqun4lvttXa1ObXHtxwPSA/0HIw6217nU1R3SPVRSj9Yr60cOxx++/p3vdy0NNg1VjZzG4iNwRHnk6fcJ3/ceDTradox7rOEH0x92HWcdL2pCmvKaRptTmvtbYlu6T8w+0dbq3nr8R9sfD5w0PFl5SvNUyWna6YLTk2fyz4ydlZ19fi753GDborZ752PO32oPb++6EHTh0kX/i+c7vDvOXPK4dPKy2+UTV7hXmq86X23qdOo8/pPTT8e7nLuarrlca7nuer21e2b36RueN87d9L158Rb/1tWeOT3dvfN6b/fF9/XfFt1+cif9zsu72Xcn7q28T7xf9EDtQdlD3YfVP1v+3Njv3H9qwHeg89HcR/cGhYPP/pH1jw9DBY+Zj8uGDYbrnjg+OTniP3L96fynQ89kzyaeF/6i/suuFxYvfvjV69fO0ZjRoZfyl5O/bXyl/erA6xmv28bCxh6+yXgzMV70VvvtwXfcdx3vo98PT+R8IH8o/2j5sfVT0Kf7kxmTk/8EA5jz/GMzLdsAAAAgY0hSTQAAeiUAAICDAAD5/wAAgOkAAHUwAADqYAAAOpgAABdvkl/FRgAABShJREFUeNrsWzFr6zoUPm4FEVQQgQUx2KAhQ4YOpWTs7++YIUOGDh5CbbDBAQcUcN5VozecV9fPdmwnTXube/UNpY1ybOvzOef7JLvOfD4Hi0/jxlJgebQ8Wh4tLI+WR8uj5dHC8mh5tDxaHi0sj5ZHy6OF5dHyaHn8C0AucpSnp6eiKBaLxRUTQYjv+0IISikAFEWxWq2KovhWHq8djLHZbEYIybJMa42f4C+n8eh5npQyy7IwDP9IpronOJvNAGCxWJzEXUt/9H2fEOJ53p+acR0TDIKAUhrH8dkkfvAYxzEARFF0vUwJITCtWtExwfF4DABJklxAZ5Ik+eSBfjuklJTSl5eX1tGOCTLGhuuJ9T1dSm3948/zj90ekBAipWSMMcbQXimlNptNlmXdJ6CU+r4/MJBSOp/Poyhar9fY8iaTCWOMEKK1VkqlaVoLnM/n6PjKWVRHn5+fj01QShkEQXneamBRFJTSxWLRUe94qUqp5XI51D8GQYB6l+c5tmpCCOdcCDEejzusUhAEUkqtdZ7neZ7j6TsCy+smhEynUyGEUgr7GgZyzmuBaZre3t4i6ZTS4VK52+3wy0EQFEVRvT1vb29SSiFEx9GEEACw2WyG+nDkQin18vJSuz/Ib3dgkiTr9bpqKZAjz/P2+/2xC51Op4yx5XKplKoG3t/fe56ntcaErUowTqz8vBdZliF3mJXVQFzbTCaTDh5d19Val9rV0x8550hi6yIpiqIwDFtNGQYmSRKGYc2Xaa3DMFRKYY63xnLOayRiIF6G53kXEYdjwALCCjgm8YyxPM/Lqd302lcAaHLRvKtNF1LNmuaFpml6zBgzxo654u7ACyJNUwCYTCbHkrH8Tj+PjDHOeZZltbxoPWXzdiVJ0rFCwIpAD9wkq6OgsCxGo9GX8pjnuVKKc96a+Ni4seP384hZvd1ue095XiDKYiuP3X2tPMWXYrPZtCY+ClqpMP06c3d3BwDdydgKTJbxeNyabjX38GMtYZIkvu+7rlsrjprC9POIju8MHjFZSnd2pUC1EUJwzsuaQ8NXVZgv33+seuArRZqmuBYoeUSr0JSEm+7+dV7pfX7Z/0PQVBvXdWsK088jVjRW90nAwG+Qgm9AVW3Qh9QUpp/H3W53zJpU0VS0/X4/JPAqgPYADSPnvKkw/TxmWVYUhRCie/HQ5CtJkiGBVwFcemMmuq7bVJhB65k4jnE53LGI5pw3NT2OY0qplPI7e9l5XWhIaePahjHWVJhBPOI2Mm7ZN5NLSimlRK5bAz3Pm81mx5QKdxYuBWwmWIAXL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height="15" width="15" /></div><table id="identi-content-table" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"><tbody><tr><td valign="top" width="370"><div id="identi-interface-results"></div></td><td valign="top" width="200"><div id="identi-interface-sgn"><table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"></table></div></td></tr></tbody></table><div id="identi-interface-message"></div></div>Minha primeira experiência com o anarco-sindicalismo ativo foi em <span style="font-style: italic;">Ibbim</span>, num movimento contra a burocracia burra e especialmente contra nosso aborrecimento geral e falta do que fazer.<br /><br />O assunto da baguaça foi comida, e a comédia se consumou (ou se consumiu) em três atos. O primeiro foi a privação. Especialmente no item qualidade. Um bom exemplo foi a sopa que o Adrian resolveu fazer.<br /><br />- Mas você sabe fazer sopa?<br /><br />- Por supuesto! Es extremamente sensillo! Ferver el água, poner unos fidelitos y unos cubitos de caldo de gallina. Y listo!<br /><br />Eu suspeitei de tanta simplicidade, mas ele parecia confiante. Depois da sopa passei a duvidar da confiança dele. Após fervida a água e de adicionado dois cubinhos, ele provou e julgou faltar sabor. Colocou mais dois cubinhos. "Perá... estava demassiado sin sabor... quisá mas dos... no, tres, no, seis!". E foi-se a caixa de cubinhos toda dentro d'água fervendo.<br /><br />Para se ter uma ideia, a colher de plástico branca usada para misturar a coisa existiu invicta durante vários anos depois do episódio. E ainda estava manchada de amarelo até a última vez que eu a vi.<br /><br />O segundo ato foi o ataque burocrático diretamente em nossos estômagos. Estudávamos hebraico no colégio de Sapir, uns cinco ou sete quilômetros de onde morávamos. Voltávamos para casa, preparávamos um prato simples (a refeição principal era a janta) e passávamos as horas. Mas eis que a Sochnut desenvolveu um nefasto plano para acabar com nossa "folga". Teríamos que comer no refeitório do centro de absorção.<br /><br />A decisão arbitrária nos foi imposta pelo diretor do lugar. "Vocês <span style="font-style: italic;">tem </span>que comer lá". Por mim não havia problema naquilo. Mas nós teríamos que pagar. E daí o buraco era mais embaixo. Não discutimos muito naquele momento e simplesmente decidimos tentar.<br /><br />Mas a comida revelou-se ainda abaixo das expectativas qualitativas de gente que vinha tomando sopa radioativa do Adrian, como nós. Sentávamos e comíamos como todo mundo, mas no fim reclamávamos.<br /><br />Com o tempo, passamos a desenvolver várias técnicas de fazer valer nosso dinheiro. Como bons latinos, comíamos devagar, falando muito e éramos normalmente os últimos a sair do refeitório. Como os russos pelo jeito não tem muito hábito de comer pão durante a refeição, deixavam vários pacotes de pão fatiado sobre as mesas. Levávamos tudo. E as frutas de sobremesa também. A diretoria não gostou, e resolveu contar o pão sobre as mesas.<br /><br />Foram várias cartas de reclamação até que decidimos marcar mais uma reunião com o diretor (seria algo como a décima). A pergunta era: Por que éramos obrigados a pagar para comer no refeitório?<br /><br />A resposta é típica da burocracia israelense. A Sochnut dava uma espécie de ajuda de subsistência para os jovens imigrantes enquanto estudavam hebraico. Mas eles descobriram que os russos gastavam tudo em cigarro. Como o dinheiro era pouco, eles resolveram pagar metade de uma refeição. Outra metade os próprios imigrantes pagariam. E não podíamos recusar, porque a metade do dinheiro da Sochnut já estava encaminhada. Como era dinheiro contado, a diretoria tinha que servir a refeição.<br /><br />Ou seja: ainda por cima, a refeição custava o dobro do que estávamos pagando. E éramos obrigados a pagar porque um bando de hooligans russos gostavam de fumar e porque a diretoria não sabia como se virar com o dinheiro.<br /><br />E aí começou o anarco-sindicalismo de ação no terceiro ato. Decidimos que as cartas e as reuniões não estavam mais surtindo efeito.<br /><br />De qualquer maneira necessitávamos de um pouco de ação, e assim o fizemos. Entrávamos no refeitório, nos servíamos e começávamos a cantar, fazendo muito barulho.<br /><br />"<span style="font-style: italic;">Liberte</span>! <span style="font-style: italic;">Igualite</span>! Eu não quero comer!"<br /><br />Continuávamos sendo os últimos a sair de lá, depois de fazer uma zona lá dentro. E sem tocar em um grão de arroz sequer. (Antes de sair, ao nos levantarmos, cantávamos o hino nacional).<br /><br />Alguns dos nossos amigos búlgaros começaram a gostar da ideia, e entraram na onda. Logo foi um casal da Bielorrússia e, enfim, em menos de uma semana, todo o resto.<br /><br />O diretor, que havia sido cretino o suficiente a ponto de ameaçar nossa saída de lá se não pagássemos pela meia refeição, não podia fazer nada. Acusar-nos de que? De cantar o hino nacional? De encher os pratos sem comer?<br /><br />De repente as cartas começaram a funcionar. Um dos importantes diretores da Sochnut resolveu vir visitar-nos e ver o que estava acontecendo lá pessoalmente. Menos de uma semana depois de começarmos a fazer barulho passamos a ganhar um vale para ser usado na cantina do colégio e comermos o que quiséssemos.<br /><br />Embora gente no Brasil vire presidente por fazer esse tipo de coisa, aqui não tive muitas chances na política depois disso. Vai ver, também, foi porque nunca me candidatei a nada.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-845021621861011162009-08-14T12:14:00.003+03:002009-10-18T22:57:54.066+02:00Ode a SderotSderot ficou famosa nos últimos anos por ser uma cidade muito próxima da faixa de Gaza, e alvo fácil para os Kassam do Hamas. Teve sua época de ser bombardeada todos os dias. Recebeu atenção do governo, teve seus edifícios protegidos e reconstruídos. Saiu na TV do mundo inteiro e hoje, bem depois do último conflito armado em Gaza, segue o que sempre foi - um buraco dormente.<br /><br />Sderot é uma cidade francamente feia. Pequena, bem espalhada sobre uns sobe-desce de pequenos montes e vales, feita quase toda de casas térreas mal desenhadas, antiquadas e sem qualquer característica própria (que não seja uma feiura discreta e inerente).<br /><br />O primeiro lugar onde fui morar em Israel, logo quando cheguei não foi nem em Sderot - que é mais isolada que senador do PSOL - mas num lugar ao lado, mais isolado ainda. Minha primeira visão de Sderot foi de madrugada. Via umas luzes a uns 500 metros de distância. Iluminação pública, lâmpadas de sódio, alaranjadas, e de mercúrio, branco azuladas. Um espectro no limite da visão. "Aquilo ali é a cidade?" - Parecia brincadeira.<br /><br />No dia seguinte eu vi por detrás da bruma do inverno forte um bairro de edifícios baixos, feios e mal feitos. Eram as luzes que eu tinha visto. Sderot estava uns dois quilômetros adiante, mais feia e desolada ainda.<br /><br />Uma vez, quando tinha uns dez anos de idade, fui para uma colônia de férias no Rio. Nos levaram para o Projac um dia. Vi uma cidade cenográfica de verdade. Foi exatamente essa a impressão que eu tive da cidade, na primeira vez que estive lá. Parecia maldade de alguém. Havia três opções para se chegar lá. À pé, o que dava mais ou menos meia hora, de ônibus, que levava uns cinco minutos, sem contar a espera de meia hora, e de taxi, que não vinha a ser uma opção.<br />Desta vez fomos à pé. E à pé voltamos também, com sacos de compras do supermercado. O nomadismo repetiu-se quase uma vez por semana durante esses seis meses porque não havia outro jeito de se fazer compras, e comer era (e ainda vem a ser) uma necessidade.<br /><br />O forninho elétrico que eu comprei (e o Adrian, meu roomate fez o favor de queimar, pouco tempo depois) foi em Beer-Sheva. Devidamente transportado de ônibus. As panelas também, no dia em que fui ao Ministério do Interior resolver meus papeis e ganhar minha carteira de identidade. Qualquer dia escrevo sobre minha decepção com Beer-Sheva, mas este post é sobre minha decepção com Sderot.<br /><br />Se a cidade era feia, a região era muito bonita. Uma coleção de colinas cheias de plantações (na maioria girassóis) com pequenas estradinhas de terra para os tratores passarem entre os campos. Estradinhas essas sempre cercadas de enormes eucaliptos (truque inventado nos anos 50 para evitar que os fazendeiros fossem alvos fáceis para os Fadayun que partiam de Gaza para realizar atentados). Quase toda estrada da região parecem túneis por debaixo de árvores.<br /><br />Quando há a colheita de trigo, outro motivo comum na agricultura da região, as máquinas fazem fardos de palha enormes e deixam os fardos no meio do campo por algum tempo. Durante este tempo, ao se olhar o horizonte e ver esses campos, parece ser uma plantação de cubos gigantes até onde a vista alcança. Sempre que dirijo pela região nesta época do ano tenho a mesma impressão - até hoje.<br /><br />A vila estudantil em si poderia bem ser uma espécie de hotel. Um monte de casinhas de dois quartos sala-cozinha, uma a dez metros da outra. Cada quarto servia para duas pessoas, em umas caminhas que imediatamente tiravam a noção de "hotel" e passava a ser pouco menos que um albergue. Um albergue franciscano, ainda por cima. Caminha de colchão de espuma super fino, uma mesa e uma cadeira. Ah! Havia um pequeno armário também, para guardar todos os pertences de uma vida inteira a ser começada em Israel.<br /><br />Eramos uns seis latinos americanos. Eu, a Débora e a irmã, a Andréa, eramos os brasileiros. O Adrian e a Silvia e o David argentinos, juntos comigo naquela casa - e a Carol, na casa das meninas. E mais de quatrocentos russos (que era um nome genérico para qualquer soviético, seja da Ucraina, Bielorrussia, Sibéria, Russia e afins).<br /><br />Mais de quatrocentos russos.<br /><br />E nós.<br /><br />Além de caminhar vários quilômetros por dia afins de ir para nossa aula de hebraico, ou fazer compras, o que mais fazíamos todos os dias?<br /><br />Como bem há de ser para latinos-americanos, causávamos problemas. Mas descrito o cenário, a ação fica para próximas postagens.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-39697683282012344472009-08-09T23:35:00.001+03:002009-10-18T11:56:48.343+02:00A brava história de um lençolDepois que eu perdi minha esteirinha de palha de deitar na praia, e que minha canga comprada em Copacabana - e devidamente roubada da minha ex - foi extraviada por vias essas ou aquelas, decidi ir para praia com um lençol velho.<br /><br />Outro dia eu virei para a Elke e disse: sabe, esse não é um lençol qualquer. Este tem história. Mais de 12 anos de história.<br /><br />E eis a história do lençol, mais detalhado pouquinha coisa do que como eu contei para a Elke naquele dia na praia:<br /><br />Ganhei aquele lençol na noite (três da madrugada) de 17 de fevereiro de 1997. Dois lençóis, um travesseiro, uma fronha e dois cobertores de lã (estava muito frio). Quem me deu foi o guardinha.<br /><br />Sim, porque chegamos nós (eu, a Andréa e a irmã dela, a Débora) do aeroporto ao centro de absorção e não havia absolutamente ninguém nos esperando para nos receber. Nada mais nada menos do que tínhamos acabado de chegar para viver em Israel. Vindos de um voo de umas 20 horas num famigerado DC-10 (ainda existe?) da não menos famigerada companhia aérea Pluna (ainda existe?) e depois passado poucas e boas numa van-taxi até chegar lá.<br /><br />A Andréa com sono, a Débora rindo dos meus comentários idiotas. Só de nervosa e eu, fazendo piada boba para esconder (ou afastar) meu próprio nervosismo. A gente tinha só acabado de mudar completamente de vida, a uma distância de 18 mil quilômetros, num país estranho, de língua esquisita e de gente idem. E as coisas não pareciam ter começado bem.<br /><br />Eu sabia que Israel era uma bagunça, só não tinha ideia o quanto. E se era uma lógica responsável imaginar que eles sabiam que 3 novos moradores estavam por chegar, era pura fé que me fazia crer que eles teriam efetivamente se preparado para nossa chegada.<br /><br />Pois bem, não tinham se preparado.<br /><br />Nem sequer tinham avisado o guardinha (que era na verdade um soldado do exército, que sabia dizer Yes em inglês e tinha mais boa vontade que capacidade para tomar decisões e executa-las). Aliás, era muito mais inglês do que sabia o motorista da Van que nos trouxe do aeroporto. Eu lembrava de três palavras em hebraico que eu aprendi na escola primária. Tentei usar todas as três, em todas as combinações possíveis para tentar me comunicar com o motorista. Isso dá impressionantes 39 combinações diferentes (se contarmos com a repetição de palavras) de frases de até 3 palavras. Impressionante para mim, porque pro motorista não impressionou nem um pouco - ele seguia sem entender, ou sem querer se comunicar. Mesmo porque foram mais de duas horas de viagem pela madrugada negra passando - hoje eu sei, na época não sabia - por buracos horrorosos como Lod, Kiriat Malachi e afins.<br /><br />Bom saber que alguém tinha explicado para ele onde nos deixar. Eu fazia alguma ideia de que era para ser em qualquer lugar perto de Beer-Sheva. Ou assim haviam me dito (mentido) na Sochnut, no Brasil, antes de vir.<br /><br />Chegamos. E era desolador.<br />Tudo escuro, frio, e eu tinha a impressão de que ele nos tinha trazido para o fim do mundo. Além do mais, encontramos o portão fechado e o motorista já queria nos deixar ali e se mandar. De uma maneira ou outra (usando minhas 3 palavras em hebraico e mais Yes em inglês) consegui explicar para o guardinha a situação; que já transitava entre o ridículo e o periclitante. Tiramos nossas malas da Van (todas as nossas posses neste mundo) e o guardinha nos enfiou numa das casinhas ainda vagas da vila estudantil, até que no dia seguinte fossem tomadas as devidas providências e fossemos estabelecidos em nossas moradias definitivas (pelo menos pelos próximos seis meses). Estava um frio do cão e o guardinha depois de ter nos dado as chaves da casa, nos deu (a cada um) um par de cobertores, travesseiro, lençóis (2) e fronha.<br /><br />Seis meses depois, quando entregamos as chaves e todo e qualquer material pertencente à diretoria e que teríamos que devolver, me dei conta que o guardinha (depois aprendi que se chamava Moshe, e já tinha saído de lá faz tempo) não tinha anotado os cobertores e lençóis que havia retirado do armazém. Um daqueles desfalques dos quais nunca ninguém se dá conta. E tendo me dado conta, fiz-me de bobo e aproveitei a falta de organização. No final levei-os comigo.<br /><br />Os lençóis, ao longo dos anos, serviram para dormir, depois para cobrir sofá, depois de cortina e finalmente teve a morte decretada pela minha ex, que queria jogar tudo fora. Salvou-se, e hoje, desbotadíssimo, quase branco, meio rasgado em alguns pontos, me serve de canga na praia.<br /><br />Vai morrer no mar, como bravo guerreiro viking.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-30315274389092711192009-07-14T23:19:00.003+03:002009-10-18T11:56:26.569+02:00A propaganda da Cellcom, e quando o buraco é bem mais lá embaixo.Comerciais televisivos são antes de tudo um sistema para costurar toda uma gama de imagens na cabeça do consumidor/cliente. A linha de costura é emoção, e aqui vale de tudo, desde paixão até humor.<br /><br />Pessoalmente tenho um horror a esta propaganda por motivos estéticos. Os símbolos usados são absurdamente primários, passando de longe o óbvio, até mesmo para um observador não atento: soldados, como símbolo nacional, que une elementos de família, moral e "<span style="font-style: italic;">bom</span>". A bola de futebol, como forma de comunicação universal, além de entretenimento. A música, uma versão moderninha de um clássico pop israelense. A locação é desértica, mas as cores são super-saturadas, puxadas para o azul.<br /><br />Como se não bastasse como injúria suficiente, vem a linha que une tudo isso: a emoção da mensagem. E esta peca o pior dos pecados estéticos. É Kitsch. É mais que kitsch, é überkitsch. É exatamente o tipo de estética totalitária que pede para não questionarmos nenhum elemento do simbolismo. Quem pode questionar que quer paz? Quem pode questionar que o futebol une os povos? Quem pode questionar como é bonito ver jovens (supõem-se que do outro lado são jovens também) sobrepondo-se à calamitosa situação em que se encontram possam dar um tempo e dialogar com o "outro lado" por essa via tão humana que é o esporte? E sob um pano de fundo tão controverso ainda por cima! A música, as moças bonitas sorrindo... Sim, é para chorar, não?<br /><br />Sim, porque truques tão baratos assim são para chorar mesmo.<br /><br />Certo, mas não foi por causa da catástrofe estética que este comercial foi linchado (embora a falta de sofisticação seguramente piorou sua situação).<br /><br />Qualquer palestino a se aproximar do muro hoje à distância suficiente para poder chutar uma bola, provavelmente vai ser morto antes de poder explicar que tudo que ele quer é "se comunicar via esporte". Qualquer objeto a cair sobre um veículo de patrulha do exército nesta posição provavelmente traria imediatamente um contingente de um pelotão do exército, alguns veículos de infantaria e um ou dois helicópteros. O fim da história seria muito feio.<br /><br />Num mundo de fantasia que foi criado para emocionar (de maneira barata), todos os elementos que foram na verdade o que principiaram toda o ciclo de violência foram esterilizados. Até mesmo os palestinos foram profundamente esterilizados - porque nem aparecem. A tal ponto que fica difícil entender como é que não fazemos paz amanhã mesmo. E isso é barato e isso é cínico, basicamente porque como vários dos elementos esterilizados foram impasses criados primeiramente por Israel, isso tira boa parte da responsabilidade do lado de cá. Como se trata de uma companhia particular que não tem nada que com o governo e/ou política, apenas um grupo com necessidade viceral de tocar no sentimento das pessoas, tudo passa de cínico para pura cara-de-pau e muito mau gosto.<br /><br />Bem, agora certas perguntinhas de ordem pratica e/ou filosófica;<br /><br /><span style="font-style: italic;">Se a empresa é particular, qual é o problema dela divulgar o que quiser? O objetivo dela é vender produtos e serviços, não? Quem não quer que não compre!</span><br /><br />Verdade. Problema deles. Meu problema é que a propaganda foi projetada para agradar ao gosto do público. E se 1) é essa realidade esterilizada que agrada ao povo, nós estamos em um baita problema e se 2) não é, mas depois de ralar muito a empresa chegou à conclusão que sim, então estamos em um baita problema.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Propagandas não foram feitas para retratar a realidade.</span><br /><br />Verdade. Vide resposta acima.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Por que tanta polêmica por tão pouca coisa?</span><br /><br />Porque trata-se da identidade do israelense médio, e por conseguinte, a capacidade de se poder chegar a algum acordo a médio e longo prazo. E tapar o sol com a peneira é uma coisa muito, muito feia, e só vai resultar em problemas.<br /><br /><span style="font-style: italic;">Eu achei emocionante. Você é contra a paz?</span><br /><br />Sou contra dar aspirina para doente de câncer. Desejar a paz não significa concordar e se emocionar com qualquer aparição da <span style="font-style: italic;">simbologia </span>de paz. Não são a mesma coisa.<br /><br />Para terminar, um pequeno resumo da ópera dos dois últimos dias, pelo <a href="http://www.reuters.com/article/industryNews/idUSTRE56B1NP20090712">Reuters</a>;Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-20443219602376064372009-07-12T17:14:00.006+03:002009-10-18T11:56:00.871+02:00Deste lado do muro ninguém dá bola para eles.Não tenho televisão, mas mesmo sem, ouvi o barulho tremendo da última propaganda da operadora de celular Cellcom. E o tremendo barulho foi imediato, em alto volume, e com razão.<br /><br />Aqui vai a produção, que dispensa tradução, a não ser a frase final: "O que queremos, afinal de contas, é um pouco de alegria, isso é tudo".<br /><br /><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/210H8wavqbc&hl=en&fs=1&color1=0x234900&color2=0x4e9e00"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/210H8wavqbc&hl=en&fs=1&color1=0x234900&color2=0x4e9e00" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" height="344" width="425"></embed><a class="wdcdtsczzzmjjwvzlkdp" href="http://www.youtube.com/v/210H8wavqbc&hl=en&fs=1&color1=0x234900&color2=0x4e9e00"></a><a class="wdcdtsczzzmjjwvzlkdp" href="http://www.youtube.com/v/210H8wavqbc&hl=en&fs=1&color1=0x234900&color2=0x4e9e00"></a></object><br /><br />O blog <a href="http://reider.wordpress.com/2009/07/11/blog-playing-with-the-animals-in-the-zoo/">Dimi's Note</a> coloca a coisa em sua devida proporção:<br /><br /><blockquote>"(...)este comercial de um minuto diz muito a respeito de como mainstream de Israel gosta de se ver e aos palestinos:<br /><br /><ul><li> Nossos soldados são todos decentes, esportivos, sem ódio - apenas profissionais.</li><li> O muro é uma parte normal da paisagem política - é ou neutra, ou muito positiva; ate mesmo o graffiti de protesto que adorna boa parte da do verdadeiro muro foi trocado neste vídeo por típicos rabiscos militares (por exemplo, "brigada C esteve aqui").</li><li> Palestinos não existem. Quer dizer, existem, mas não sabemos exatamente qual sua aparência. E certamente eles não tem soldadas tão bonitas quanto as nossas. Além do que, mostrar palestinos faria varias pessoas repelirem o comercial.</li><li> Os invisíveis palestinos terríveis-demais-para-serem-mostrados-no-horário-nobre, estão perfeitamente felizes de jogar com pessoas que os encarceiraram (note como o muro faz uma curva, dando a impressão de ser um pequeno cercadinho, ao invés de um gigantesco projeto engasgado num país inteiro.) Nós acreditamos tanto que eles devem estar contentes de jogar conosco, que quando eles não devolvem a bola (a bola deles), temos todo direito de gritar indignados "Nu?!" ("E ai?!")"</li></ul></blockquote><br />O engraçadíssimo blog <a href="http://shmookty.wordpress.com/">Half and Half</a> faz uma <a href="http://shmookty.wordpress.com/2009/07/11/close-encounters-of-the-levantine-kind/">comparação</a> com Contatos Imediatos do Terceiro Grau, e logo em seguida uma <a href="http://shmookty.wordpress.com/2009/07/12/close-encounters-of-the-levantine-kind-part-2/">paródia de outros scripts tão ruins quanto</a>. E o pessoal já começou a se indignar publicamente no Facebook, como publicou o <a href="http://www.haaretz.com/hasen/spages/1099529.html">Ha'Aretz</a>.<br /><br />Não me incomoda o comercial em si. Ele apenas me dá uma terrível vergonha alheia. O que me incomoda de verdade, é que boa parte da população israelense realmente acredita na "<span style="font-style: italic;">paz</span>" entre aspas deste mundo cor-de-rosa e kitsch. Me incomoda que uma empresa tão grande e importante, ironicamente dirigida por um ex diretor do Mossad, tenha a incompetência suprema de usar este sonho cor-de-rosa e kitsch para vender uma porcaria de um conteúdo multimedia (que será vendido em sua maioria para adolescentes que sonham em entrar para o exército e metralhar quantos terroristas for possível)."<br /><br />Me incomoda que este sonho cor-de-rosa e kitsch de paz não corroba com absolutamente qualquer aspecto da realidade. E o pior? Não corroba em absoluto com o aspecto mais importante de todos: os palestinos do outro lado do muro, e o próprio muro em si.<br />Desculpe, esse não é o pior. O pior, é como cita o Dimi's Notes na sequência:<br /><br /><blockquote>"Quanto mais penso sobre este comercial, do ponto de vista de um ativista, mais triste ele me parece. Comerciais são direcionados para o mercado em geral, e como este, são cápsulas do tempo inestimáveis, representando os humores da população com muito mais fidelidade que qualquer arte. Eles não podem se permitir perder nem um único cliente - portanto documentam não só o que a sociedade realmente é, mas o que ela realmente acredita ser, o que pode ser tão decisivo quanto fatos e números."</blockquote>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-11571311510591152742009-07-11T15:13:00.003+03:002009-10-18T11:55:25.599+02:00Do lado de cá do marMar Mediterrâneo. Na verdade bem na beira do mar Mediterrâneo. Quatro ou cinco metros de onde a água chega. Na faixa de areia em algum lugar entre Frishmann e Alemby em Tel-Aviv.<br /><br />Não é o "<span style="font-style: italic;">point</span>". Não gosto de "<span style="font-style: italic;">points</span>". Têm muito <a href="http://desoriente.blogspot.com/2009/03/o-kitsch-o-escorpiao-e-o-ars.html"><span style="font-style: italic;">Ars </span></a>por aquelas regiões e não me faz nenhum gosto. Mas o israelense típico é <span style="font-style: italic;">Ars</span>, e vai me acompanhar desde os mais remotos confins do deserto do Neguev, até as montanhas do Galil. Então faço o que posso para evitar, mas deixo por conta da sorte os ventos mais silenciosos.<br /><br />Afinal o que me enfadonha nos <span style="font-style: italic;">arsim </span>é exatamente o que me fascina, o barulho que eles fazem. E já sei - ali sentado na praia - vão ser para sempre parte se não da trilha sonora, pelo menos da música de fundo em qualquer situação pelo país.<br /><br />A hora é alguma coisa entre 2:30 e 3:00 da tarde. Nem olho no relógio. Conto o tempo por quantas cervejas eu já bebi, o quanto estou com calor (e portanto preciso de mais um mergulho no mar) e quantas páginas já li no meu livro.<br /><br />Viro mais uma página, abro mais uma cerveja e suspiro a um acorde genial do King Crimson que me fez o favor de me aparecer no rádio, assim, sem mais nem menos numa tarde de sexta feira. Do meu lado direito um grupo de turistas americanos. Falam muito alto, e a conversa deles gira em torno de onde já foram, onde ainda não foram e quando planejam ir. Não devem ter mais que 25 anos. Talvez bem menos. São judeus, estão fazendo algum curso em algum lugar em Jerusalém e ainda sentem aquele orgulho misturado com encanto ingênuo de quem mora fora e vem passar só uns tempos por aqui. Sorrio para mim mesmo com um misto de ternura, inveja e pena deste sentimento deles. "<span style="font-style: italic;">Oh... If they only knew any better...</span>".<br /><br />Na minha frente o mar azul. Tão transparente que até dá para ver o lixo no fundo. Mais adiante, mar adentro, as quebra-ondas que transformaram quase todas as praias em Israel em enseadas. Depois dessa linha, barcos, windsurfing, jet-skis e, lá longe (juro, é só esticar mais o pescoço para ver) está a Grécia.<br /><br />É claro. Entre eu e tudo isso está um exército de jogadores de frescobol. Eles chamam isso de "raquete", têm absoluta convicção que inventaram a atividade - e mais - que é típico israelense. Bem como as Havaianas que invadiram o país (um par por módicos 100 shekalim (uns 50 reais) e a certeza de que você pode ir com eles até mesmo para uma reunião de negócios. Chame isso de style, ou falta de. Os israelenses chamam isso de conforto).<br /><br />Se vou dar um mergulho no mar e tenho que me defender desses batedores de bolinha, fico planejando mirabolantes planos em que eu levo a Preta para a praia, mesmo sendo proibida a entrada de cachorros. Ela adora bolinhas, e ia ser divertido ver ela arrebentando uma por uma, até que não sobrem nenhuma e o "tak-tak-tak-tak" do frescobol desapareça.<br /><br />Do meu lado esquerdo têm um grupo de adolescentes-pós-vinte. As moças quase bonitas com biquinis que no Brasil iriam parecer uma imensa lona de circo. Os rapazes com shortes de surfista, anos 90, práticos e deselegantes. Um deles toca violão - graças a Deus ninguém aqui conhece nem Raul, nem Legião, mas inevitavelmente tocam Berry Sacharov (<a href="http://www.youtube.com/watch?v=kKa0o_MdPsA">clique para ouvir</a>), Machina (<a href="http://www.youtube.com/watch?v=Vm6AH9sC_Wk">clique para ouvir</a>) e o rapaz até tentou tirar um Aviv Guefen (<a href="http://www.youtube.com/watch?v=wyBsntaaF0M">clique para ouvir</a>), não sem alguns protestos. Falam amenidades da vida, sem qualquer preocupação. Nem sobre assuntos sérios, nem sobre fofocas. Coisas da vida. Não fumam maconha. Mas eu sei que acabaram de fumar.<br /><br />Uma turista (eu sei que é turista) provavelmente russa vai andando devagar até chegar com os joelhos na água. Usa um fio dental indiscreto. Mas não chama a atenção (além de mim, of course). Depois acompanha a loira uma morena de pele branca com um biquini horroroso de oncinha e entram no mar dando gritinhos a cada onda que passa.<br /><br />Um único vendedor de picolé passa gritando. Dá saudades dos vendedores de matte e de biscoito Globo de Ipanema (não faltam coisas para ter saudades de Ipanema, mas neste exato momento penso num matte gelado e biscoito de polvilho que não como há anos).<br /><br />Atrás de mim (me viro de costas para o mar com a desculpa de queimar um pouco as costas, mas é para ver e relatar aos meus parcos leitores) estão duas <span style="font-style: italic;">beldades-wannabe</span> se tostando sob as areias de Tel-Aviv. Usam enormes óculos escuros Gucci, e fazem caras e bocas de quem esta fervendo. Não são feias, e estariam melhor na fita se não fizessem assim tanto esforço para ferver, quando estão só relativamente mornas. Ao lado delas um gordo branco, peludo e careca sentado numa cadeira de praia chupa um narguilê. Parece um paxá anacrônico de bermuda desbotada. Fala alto ao celular enquanto olha vidrado para o mar. O cheiro de fumaça adocicada chega até mim e me faz esquecer finalmente de Ipanema, onde o cheiro de fumaça é outro.<br /><br />Duas adolescentes francesas cortam meu caminho espirrando areia para todos os lados. Uma bonitinha, outra horrorosa. Ambas maquiadas demais para praia.<br /><br />Deste lado a vista é urbana. A avenida Ha'Yarkon e seus hotéis de luxo de uma arquitetura de um mal gosto tremendo. A maioria construída nos anos 70, beseado num projeto urbano criminoso que matou a avenida e a chance de salvação desta faixa da cidade. Estou quase de frente para a embaixada dos Estados Unidos. Um pouco mais ao norte, a embaixada da Franca. Li em algum lugar que o verdadeiro motivo pelo qual quase todas as embaixadas de grandes países se encontram em Tel-Aviv, e não em Jerusalém, e beira-mar, e não dentro da cidade, é por questões de segurança. Ninguém acreditava muito naquela época que o país vingaria por muito tempo, e decidiram colocar suas representações em lugar que pudessem ser evacuados imediatamente - pelo mar. Deve ser verdade. Ou pelo menos devia ter sido verdade, no passado. Hoje seria completa loucura sair de um imóvel tão valorizado e com vista tão espetacular.<br /><br />Olhando para o sul, a Ha'Yarkon chega até Yaffo, e daqui se vê por trás da bruma do mar a cidade velha e a mesquita que vem antes dela. Ao norte, a enorme chaminé da usina de energia Ridling, ao lado de um pequeno aeroporto de vôos nacionais. As vezes passa um Fokker passando baixo, outras vezes um Hercules do exército. Às vezes passa um enorme Boeing preguiçoso e pachorrento pelo céu azul e brilhante se preparando para pousar no Aeroporto Ben-Gurion. Na maior parte das vezes só escuto, sem olhar para cima.<br /><br />Escuto também sem olhar o salva-vidas gritando. Eles ficam numa casinha de madeira que parece um celeiro deslocado. São normalmente uns ex-surfistas barrigudos de meia idade, super bronzeados, sentados na varandinha do segundo andar, sempre a bater papo com algum amigo, olhando o mar e gritando em um alto falante: "A moça de biquini azul! Faça o favor de vir mais perto da praia. Vocês aí na rodinha! Mais para o norte, mais para o norte!".<br /><br />Quando vou tomar uma chuverada (a água do mar esta quente demais para me refrescar o suficiente) ouço alguém no calçadão tocando um <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Shofar">shofar</a>. Não é nenhum conversor, inquisitor ou ativista pró religião. É só um maluco solitário que toca seu shofar numa sexta de tarde, no calçadão da Ha'Yarkon, e segue andando.<br /><br />Antes de ter uma disfunção renal de tanta cerveja, acompanhado de diabetes induzida por uvas tão doces (enormes, sem caroço), amarro a trouxa e empacoto tudo na bicicleta para me encontrar com os amigos no sambão em Yaffo (já extinto por conta da burocracia da prefeitura). Não sem antes passar um tiozinho com um enorme carrinho, pedindo pelas minhas latinhas de cerveja.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-2321307985238505272009-07-11T15:11:00.004+03:002009-10-18T11:49:53.969+02:00De volta ao frontDepois de difícil temporada soterrado de entregas finais do semestre na universidade, um nó nas tripas, e uma total desintegração deste computador, este blog volta às suas atividades normais. Seja lá o que normal signifique.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-77565649357929341132009-06-15T01:05:00.001+03:002009-10-18T11:49:32.488+02:00Nem sim, nem não - muito pelo contrário. O discurso de Natanyahu.<div style="position: absolute; display: none;" class="ui-draggable" id="identi-interface"><div id="identi-top-pannel"><img id="identi-logo" src="data:image/png;base64,iVBORw0KGgoAAAANSUhEUgAAAG0AAAA8CAIAAADjSKNTAAAACXBIWXMAAAsTAAALEwEAmpwYAAAKT2lDQ1BQaG90b3Nob3AgSUNDIHByb2ZpbGUAAHjanVNnVFPpFj333vRCS4iAlEtvUhUIIFJCi4AUkSYqIQkQSoghodkVUcERRUUEG8igiAOOjoCMFVEsDIoK2AfkIaKOg6OIisr74Xuja9a89+bN/rXXPues852zzwfACAyWSDNRNYAMqUIeEeCDx8TG4eQuQIEKJHAAEAizZCFz/SMBAPh+PDwrIsAHvgABeNMLCADATZvAMByH/w/qQplcAYCEAcB0kThLCIAUAEB6jkKmAEBGAYCdmCZTAKAEAGDLY2LjAFAtAGAnf+bTAICd+Jl7AQBblCEVAaCRACATZYhEAGg7AKzPVopFAFgwABRmS8Q5ANgtADBJV2ZIALC3AMDOEAuyAAgMADBRiIUpAAR7AGDIIyN4AISZABRG8lc88SuuEOcqAAB4mbI8uSQ5RYFbCC1xB1dXLh4ozkkXKxQ2YQJhmkAuwnmZGTKBNA/g88wAAKCRFRHgg/P9eM4Ors7ONo62Dl8t6r8G/yJiYuP+5c+rcEAAAOF0ftH+LC+zGoA7BoBt/qIl7gRoXgugdfeLZrIPQLUAoOnaV/Nw+H48PEWhkLnZ2eXk5NhKxEJbYcpXff5nwl/AV/1s+X48/Pf14L7iJIEyXYFHBPjgwsz0TKUcz5IJhGLc5o9H/LcL//wd0yLESWK5WCoU41EScY5EmozzMqUiiUKSKcUl0v9k4t8s+wM+3zUAsGo+AXuRLahdYwP2SycQWHTA4vcAAPK7b8HUKAgDgGiD4c93/+8//UegJQCAZkmScQAAXkQkLlTKsz/HCAAARKCBKrBBG/TBGCzABhzBBdzBC/xgNoRCJMTCQhBCCmSAHHJgKayCQiiGzbAdKmAv1EAdNMBRaIaTcA4uwlW4Dj1wD/phCJ7BKLyBCQRByAgTYSHaiAFiilgjjggXmYX4IcFIBBKLJCDJiBRRIkuRNUgxUopUIFVIHfI9cgI5h1xGupE7yAAygvyGvEcxlIGyUT3UDLVDuag3GoRGogvQZHQxmo8WoJvQcrQaPYw2oefQq2gP2o8+Q8cwwOgYBzPEbDAuxsNCsTgsCZNjy7EirAyrxhqwVqwDu4n1Y8+xdwQSgUXACTYEd0IgYR5BSFhMWE7YSKggHCQ0EdoJNwkDhFHCJyKTqEu0JroR+cQYYjIxh1hILCPWEo8TLxB7iEPENyQSiUMyJ7mQAkmxpFTSEtJG0m5SI+ksqZs0SBojk8naZGuyBzmULCAryIXkneTD5DPkG+Qh8lsKnWJAcaT4U+IoUspqShnlEOU05QZlmDJBVaOaUt2ooVQRNY9aQq2htlKvUYeoEzR1mjnNgxZJS6WtopXTGmgXaPdpr+h0uhHdlR5Ol9BX0svpR+iX6AP0dwwNhhWDx4hnKBmbGAcYZxl3GK+YTKYZ04sZx1QwNzHrmOeZD5lvVVgqtip8FZHKCpVKlSaVGyovVKmqpqreqgtV81XLVI+pXlN9rkZVM1PjqQnUlqtVqp1Q61MbU2epO6iHqmeob1Q/pH5Z/YkGWcNMw09DpFGgsV/jvMYgC2MZs3gsIWsNq4Z1gTXEJrHN2Xx2KruY/R27iz2qqaE5QzNKM1ezUvOUZj8H45hx+Jx0TgnnKKeX836K3hTvKeIpG6Y0TLkxZVxrqpaXllirSKtRq0frvTau7aedpr1Fu1n7gQ5Bx0onXCdHZ4/OBZ3nU9lT3acKpxZNPTr1ri6qa6UbobtEd79up+6Ynr5egJ5Mb6feeb3n+hx9L/1U/W36p/VHDFgGswwkBtsMzhg8xTVxbzwdL8fb8VFDXcNAQ6VhlWGX4YSRudE8o9VGjUYPjGnGXOMk423GbcajJgYmISZLTepN7ppSTbmmKaY7TDtMx83MzaLN1pk1mz0x1zLnm+eb15vft2BaeFostqi2uGVJsuRaplnutrxuhVo5WaVYVVpds0atna0l1rutu6cRp7lOk06rntZnw7Dxtsm2qbcZsOXYBtuutm22fWFnYhdnt8Wuw+6TvZN9un2N/T0HDYfZDqsdWh1+c7RyFDpWOt6azpzuP33F9JbpL2dYzxDP2DPjthPLKcRpnVOb00dnF2e5c4PziIuJS4LLLpc+Lpsbxt3IveRKdPVxXeF60vWdm7Obwu2o26/uNu5p7ofcn8w0nymeWTNz0MPIQ+BR5dE/C5+VMGvfrH5PQ0+BZ7XnIy9jL5FXrdewt6V3qvdh7xc+9j5yn+M+4zw33jLeWV/MN8C3yLfLT8Nvnl+F30N/I/9k/3r/0QCngCUBZwOJgUGBWwL7+Hp8Ib+OPzrbZfay2e1BjKC5QRVBj4KtguXBrSFoyOyQrSH355jOkc5pDoVQfujW0Adh5mGLw34MJ4WHhVeGP45wiFga0TGXNXfR3ENz30T6RJZE3ptnMU85ry1KNSo+qi5qPNo3ujS6P8YuZlnM1VidWElsSxw5LiquNm5svt/87fOH4p3iC+N7F5gvyF1weaHOwvSFpxapLhIsOpZATIhOOJTwQRAqqBaMJfITdyWOCnnCHcJnIi/RNtGI2ENcKh5O8kgqTXqS7JG8NXkkxTOlLOW5hCepkLxMDUzdmzqeFpp2IG0yPTq9MYOSkZBxQqohTZO2Z+pn5mZ2y6xlhbL+xW6Lty8elQfJa7OQrAVZLQq2QqboVFoo1yoHsmdlV2a/zYnKOZarnivN7cyzytuQN5zvn//tEsIS4ZK2pYZLVy0dWOa9rGo5sjxxedsK4xUFK4ZWBqw8uIq2Km3VT6vtV5eufr0mek1rgV7ByoLBtQFr6wtVCuWFfevc1+1dT1gvWd+1YfqGnRs+FYmKrhTbF5cVf9go3HjlG4dvyr+Z3JS0qavEuWTPZtJm6ebeLZ5bDpaql+aXDm4N2dq0Dd9WtO319kXbL5fNKNu7g7ZDuaO/PLi8ZafJzs07P1SkVPRU+lQ27tLdtWHX+G7R7ht7vPY07NXbW7z3/T7JvttVAVVN1WbVZftJ+7P3P66Jqun4lvttXa1ObXHtxwPSA/0HIw6217nU1R3SPVRSj9Yr60cOxx++/p3vdy0NNg1VjZzG4iNwRHnk6fcJ3/ceDTradox7rOEH0x92HWcdL2pCmvKaRptTmvtbYlu6T8w+0dbq3nr8R9sfD5w0PFl5SvNUyWna6YLTk2fyz4ydlZ19fi753GDborZ752PO32oPb++6EHTh0kX/i+c7vDvOXPK4dPKy2+UTV7hXmq86X23qdOo8/pPTT8e7nLuarrlca7nuer21e2b36RueN87d9L158Rb/1tWeOT3dvfN6b/fF9/XfFt1+cif9zsu72Xcn7q28T7xf9EDtQdlD3YfVP1v+3Njv3H9qwHeg89HcR/cGhYPP/pH1jw9DBY+Zj8uGDYbrnjg+OTniP3L96fynQ89kzyaeF/6i/suuFxYvfvjV69fO0ZjRoZfyl5O/bXyl/erA6xmv28bCxh6+yXgzMV70VvvtwXfcdx3vo98PT+R8IH8o/2j5sfVT0Kf7kxmTk/8EA5jz/GMzLdsAAAAgY0hSTQAAeiUAAICDAAD5/wAAgOkAAHUwAADqYAAAOpgAABdvkl/FRgAABShJREFUeNrsWzFr6zoUPm4FEVQQgQUx2KAhQ4YOpWTs7++YIUOGDh5CbbDBAQcUcN5VozecV9fPdmwnTXube/UNpY1ybOvzOef7JLvOfD4Hi0/jxlJgebQ8Wh4tLI+WR8uj5dHC8mh5tDxaHi0sj5ZHy6OF5dHyaHn8C0AucpSnp6eiKBaLxRUTQYjv+0IISikAFEWxWq2KovhWHq8djLHZbEYIybJMa42f4C+n8eh5npQyy7IwDP9IpronOJvNAGCxWJzEXUt/9H2fEOJ53p+acR0TDIKAUhrH8dkkfvAYxzEARFF0vUwJITCtWtExwfF4DABJklxAZ5Ik+eSBfjuklJTSl5eX1tGOCTLGhuuJ9T1dSm3948/zj90ekBAipWSMMcbQXimlNptNlmXdJ6CU+r4/MJBSOp/Poyhar9fY8iaTCWOMEKK1VkqlaVoLnM/n6PjKWVRHn5+fj01QShkEQXneamBRFJTSxWLRUe94qUqp5XI51D8GQYB6l+c5tmpCCOdcCDEejzusUhAEUkqtdZ7neZ7j6TsCy+smhEynUyGEUgr7GgZyzmuBaZre3t4i6ZTS4VK52+3wy0EQFEVRvT1vb29SSiFEx9GEEACw2WyG+nDkQin18vJSuz/Ib3dgkiTr9bpqKZAjz/P2+/2xC51Op4yx5XKplKoG3t/fe56ntcaErUowTqz8vBdZliF3mJXVQFzbTCaTDh5d19Val9rV0x8550hi6yIpiqIwDFtNGQYmSRKGYc2Xaa3DMFRKYY63xnLOayRiIF6G53kXEYdjwALCCjgm8YyxPM/Lqd302lcAaHLRvKtNF1LNmuaFpml6zBgzxo654u7ACyJNUwCYTCbHkrH8Tj+PjDHOeZZltbxoPWXzdiVJ0rFCwIpAD9wkq6OgsCxGo9GX8pjnuVKKc96a+Ni4seP384hZvd1ue095XiDKYiuP3X2tPMWXYrPZtCY+ClqpMP06c3d3BwDdydgKTJbxeNyabjX38GMtYZIkvu+7rlsrjprC9POIju8MHjFZSnd2pUC1EUJwzsuaQ8NXVZgv33+seuArRZqmuBYoeUSr0JSEm+7+dV7pfX7Z/0PQVBvXdWsK088jVjRW90nAwG+Qgm9AVW3Qh9QUpp/H3W53zJpU0VS0/X4/JPAqgPYADSPnvKkw/TxmWVYUhRCie/HQ5CtJkiGBVwFcemMmuq7bVJhB65k4jnE53LGI5pw3NT2OY0qplPI7e9l5XWhIaePahjHWVJhBPOI2Mm7ZN5NLSimlRK5bAz3Pm81mx5QKdxYuBWwmWIAXL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height="15" width="15" /></div><table id="identi-content-table" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"><tbody><tr><td valign="top" width="370"><div id="identi-interface-results"></div></td><td valign="top" width="200"><div id="identi-interface-sgn"><table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"></table></div></td></tr></tbody></table><div id="identi-interface-message"></div></div><a href="http://desoriente.blogspot.com/2009/06/se-correr-o-bicho-pega-se-ficar-o-bicho.html">Tudo previsível.</a><br /><br />A linguagem messiânica, os movimentos de mãos de líder, e a impressionante quantidades de clichês repetidos <span style="font-style: italic;">ad nauseum.</span><br /><br />Como previsto, Nataniahu deu um show de oratória. Falou muito, falou bem e não disse absolutamente nada. Invocou a história do sionismo, invocou as várias tentativas de aproximação com os palestinos (incluindo aqui dezenas de <span style="font-style: italic;">clichés </span>sem gosto, e sem verdade) e fechou o botequim com o seguinte resumo:<br /><br />Aceita sentar-se com qualquer líder árabe (ou com todos) para conversar sobre paz sem (<span style="font-style: italic;">sic</span>) qualquer pré condição (embora não tenha especificado para conversar exatamente sobre o que);<br /><br />Aceita a existência de um "lar palestino" (cá, perceber que a palavra "estado" não foi usada) desmilitarizado. Refugiados deverão ter sua situação resolvida fora das fronteiras de Israel. E Jerusalém seguirá indivisível (como se ainda o fosse) capital de Israel;<br /><br />Sobre os assentamentos, Natanyahu conseguiu enrolar até a mim e a outros melhores que eu: afirmou que não construirá mais cidades, e que não expandirá as existentes, mas que se reserva ao direito de cuidar do crescimento natural da população afim de que possam "levar uma vida normal". Como, exatamente, ninguém entendeu. Vai construir casas debaixo da terra? Ou será que expansão é uma questão semântica discutível.<br /><br />A <a href="http://www.haaretz.com/hasen/spages/1092720.html">resposta do Obama</a> não leva em consideração que em momento algum Natanyahu explica o que fará com os postos avançados e as colônias ilegais (quem dirá as legais).<br /><br />Enfim, quality time em frente à televisão, ao invés de ficar vendo novela.Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-28884454.post-73730070591386161062009-06-12T10:30:00.002+03:002009-10-18T11:49:12.891+02:00O Caso do Colchão Velho<div style="text-align: left;">História absolutamente verídica relatada pelo Yediot Haharonot de ontem. Passou-se em uma pequena cidade satélite de Tel-Aviv não identificada pela reportagem.<br /><br />O "causo" foi o seguinte. A filha, lá pelos seus 40 anos de idade, comprou um colchão de presente para mãe.<br /><br />A reportagem ainda esclarece que ela ganhou um desconto especial pelo local de trabalho. É uma maneira cafajestésima que empresas de cartão de crédito e de promoções têm de se verem livres de estoques e de produtos encalhados: imprimem para os funcionários de empresas associadas um boleto de "desconto" e estes, que nem sequer pretendiam comprar qualquer coisa, se vêem compelidos a "aproveitar" a oportunidade.<br /><br />Enfim, comprou o colchão. Como não realmente precisava do colchão, ficou lá ela a pensar com seus botões o que fazer com o colchão que não precisava: deu de presente para mãe. Mas dar de presente para mãe não parecia para a distinta uma bossa legal: vai chegar em casa com o embrulho debaixo do braço dizendo "mamãe, olha só o que eu comprei prá você!"? Enfim, pro soneto ficar pior que a emenda, resolveu fazer uma surpresa.<br /><br />Chegou na casa da mãe com o colchão, quando esta não estava lá, levou e velho embora para junto aos latões de lixo na rua e ficou esperando a velha para fazer uma "surpresa".<br /><br />Pensando nisso agora, me ocorre a impressionante quantidade de colchões atirados à própria sorte pelas ruas de Israel. Deve ter promoção à beça por aí, porque nunca vi povo para trocar de colchão como por aqui.<br /><br />Enfim, chegou a mãe, que realmente ficou surpreendida. Tão surpreendida que desmaiou, e quase teve um ataque cardíaco. É que a velha costumava guardar suas economias dentro do colchão. Em dólar. E tinha ali dentro mais de um milhão deles.<br /><br />Saíram as duas estabanadas rua afora em busca do colchão velho, que já tinha sido recolhido pelo caminhão de lixo. De lá correram, de carona (com um outro caminhão de lixo, a reportagem ainda acrescenta), até o depósito da região de Tel-Aviv. Depósito esse que recolhe mais de 3000 toneladas de lixo por dia.<br /><br />Até o fechamento da edição, informavam, não haviam achado ainda o colchão.<br /><br />Eu fiquei lá pensando: 1) Com o dólar, do jeito que anda, guardar economias em espécie é uma forma lenta de jogar todo o dinheiro fora, de qualquer maneira. 2) Se a filha - como fez questão de informar a reportagem - estava na casa dos 40, a mãe deveria estar lá pelos 60, ou 70. Fico a me perguntar: estava guardando o dinheiro para que? Ou para quando? 3)Se tinha tanto dinheiro, por que não trocou de colchão a própria mãe, pois como está na reportagem, o colchão já tinha "décadas"? 4) O colchão velho eu não sei, mas esses novos são absurdamente pesados. A filha provavelmente não poderia enfiar-lo dentro da casa da mãe sozinha, assim que certamente teve auxilio do motorista da loja - que foi provavelmente quem ajudou a jogar o colchão velho fora. E conhecendo tanto de colchão, deve ter reparado que o colchão velho tem uma estranha textura por debaixo do tecido. Eu não procuraria no depósito de lixo, e sim na casa de algum motorista aí que já pediu demissão faz tempo. E, finalmente, 5) 3000 toneladas de lixo por dia num único depósito de lixo num país do tamanho de Israel? Um colchão, que é 100% não biodegradável e em boa parte reciclável? Com uma política ambientalista tão precária, basta o Hamás esperar uns anos, e nós nos daremos conta de nos jogarmos no mar.<br /></div>Gabriel Paciornikhttp://www.blogger.com/profile/03241010303030020413noreply@blogger.com2