terça-feira, maio 19, 2009

Perguntas e respostas e uma ode à futilidade

Uma das minhas capacidades mais inúteis e impressionantes é a de escrever sobre absolutamente coisa nenhuma com a mesma pretensão de um apóstolo registrando uma revelação profunda. Bagganah Namarikkah, que nos meus tempos de guri me revelou muita coisa importante sobre a a questão de ser profundamente inútil, apresentou-me ao tenebroso paradoxo de que o tema, em si, não tem qualquer importância. O que importa é sair escrevendo. E escrever bem.

Então, vamos lá, QA:

Q: O que é uma Pita?
A: É o famoso pão sírio. Um pão em forma de bolso. O legal é que dá para colocar absolutamente qualquer coisa ali dentro, desde faláfel, até Nutella. Tinha um amigo que punha cheetos.

Q: Qual é a vantagem de uma Pita sobre outros tipos de pães?
A: Dá para encher bastante que só vai começar a escorrer pelos dedos depois da pita estar bem úmida e esfarelada pelo manuseio.

Q: Então? Dá para comer Hamburger dentro de uma Pita?
A: Putz! Que boa ideia! Nunca tinha pensado nisso! Vou tentar.

Q: E tem desvantagens?
A: Engorda pacas, e se não for fresca (e em geral os israelenses clássicos colocam sacos e sacos de pita no freezer) tem gosto de... como dizer? Meia marrom?

Q: Qual é gosto de meia marrom?
A: É o gosto que tem uma Pita guardada no freezer.

Q: Por que você se refere à pita como pita, e não como pão sírio?
A: Porque esse é o nome da paradinha. Além do mais, com essa nova regra de hifenização, já não tenho idéia de como se escreve pão sírio (se é pão-sírio, pãossírio ou sei lá). Fico com o nome hebraico.

Q: O que é típico de se comer com pita?
A: Humus, embora eu tenha certeza de que Nutella anda mais alto no ibope nos últimos anos.

Q: O que é humus?
A: Grão de Bico. É uma leguminosa da família das Fabaceas, parecido com uma ervilha grande e bege. É cozido e servido amassado em forma de uma pasta, com Tehina, óleo de oliva e Zattar.

Q: O que é tehina?
A: Pasta de gerjelim. Agora você vai perguntar o que é Zattar, né?

Q: Ehn.... O que é Zattar?
A: Uma mistura de um monte de ervinha, oregano, menta e coisas que eu prefiro não saber que estão lá.

Q: É perigoso morar em Israel?
A: Pode ser sim. Existem várias situações em que estar em Israel pode ser uma coisa terrivelmente perigosa.

Q: Por exemplo?
A: Falar mal de pita para um israelense. Pode vir a ser perigoso. Ou neste caso, falar mal de humus. Humus é na verdade a religião oficial de Israel, ao contrário do que se prega por aí.

Q: Eu quis dizer... perigo de vida!
A: Eu também!

Q: O que mais pode ser perigoso?
A: Andar na rua. De carro, ou pior, à pé. O povo aqui dirige muito, muito mal.

Q: E aquelas coisas violentas que se vê nos jornais por aí? Não é perigoso?
A: É sim. É um perigo ficar vendo esses jornais! Se informe única e exclusivamente por meios de comunicações autorizados pelo ministério da saúde.

Q: O que é hamsin?
A: Hamsin é um evento atmosférico dos mais desagradáveis. É como uma sauna seca (seca mesmo- sauna mesmo), com a mesma temperatura, mesma quantidade de vento, só que com uma luminosidade do sol que até mesmo óculos de soldar não são suficiente para conseguir olhar para frente. E toneladas e toneladas de pó no ar. Visibilidade não passa de algumas centenas de metros - às vezes não passa de um metro.

Q: Acontece sempre?
A: Não. Só quando o ar-condicionado estraga, ou quando a praia está interditada ou quando se tem que trabalhar ao ar livre.

Q: O que é Sharav?
A: Mesma coisa que Hamsin, mas em hebraico.

Q: Você vê sempre camelos andando pela rua?
A: Não. Mas já vi alguns andando em manadas perto do meu apartamento em Beer-Sheva, nos limites da cidade. E já ví (lá em Beer-Sheva, evidente - só em Beer-Sheva acontecem essas coisas) beduínos andando de mula no centro da cidade, literalmente empacando o trânsito.

Q: O que você acha da política em Israel?
A: Complicada. Muito mais do que parece ser quando vista de fora. Mas é mais fácil para jornalistas pagarem suas contas dando notícia óbvia e ululante, já que uma análise completa dependeria de ler jornais em hebraico e entrevistar gente de 2o e 3o escalões. E daí teriam que trabalhar... E seria exigir demais.

Q: Você tem alguma coisa contra jornalistas?
A: Que jornalistas? Os que pensam e os que fazem seu trabalho? Não. Nenhum dos doze deles.

Q: Você já esteve em algum lugar sagrado?
A: Quase todos - me falta ainda o centro atômico em Dimona.

Q: Sentiu alguma coisa?
A: Sim. Senti que as placas tectônicas vão mover tudo aquilo um dia - assim que "lugar" sagrado é uma definição absurdamente mesquinha e relevante apenas pelo fato das vidas humanas serem tão curtas.

Q: Quem foi Bagganah Namarikkah?
A: Um dos alter-egos do Otacílio De'Assunção Barros (Em verdade, em verdade vos digo), editor do Mad. Adorava ele!

2 comentários:

Marcelo disse...

Grande Ota! Saiu da Mad soltando cobras e lagartos.

Mas Gabriel, a grafia correta não é Homus, não? Porque humus, sei lá, traz à cabeça aquele monte de esterco misturado com terra...

E homus no pita é bom demais.

Gabriel Paciornik disse...

Olha, segundo a Wikipedia, na boa, da para escrever como se quiser, afinal eh transliteracao do arabe. Numa outra postagem minha eu escrevi Houmous. Mas achei floreado demais, simplifiquei e fiquei com a diccao hebraica.

O Ota eh um genio. Hoje nas minhas Mads antigas, a parte que eu mais gosto sao os editoriais que ele escrevia. Hoje ele tem um blog, que so nao acompanho porque nao da para acompanhar tudo que ocorre pela net. As vezes dou um pulinho por la, risadas garantidas.

[]s!