sexta-feira, agosto 14, 2009

Ode a Sderot

Sderot ficou famosa nos últimos anos por ser uma cidade muito próxima da faixa de Gaza, e alvo fácil para os Kassam do Hamas. Teve sua época de ser bombardeada todos os dias. Recebeu atenção do governo, teve seus edifícios protegidos e reconstruídos. Saiu na TV do mundo inteiro e hoje, bem depois do último conflito armado em Gaza, segue o que sempre foi - um buraco dormente.

Sderot é uma cidade francamente feia. Pequena, bem espalhada sobre uns sobe-desce de pequenos montes e vales, feita quase toda de casas térreas mal desenhadas, antiquadas e sem qualquer característica própria (que não seja uma feiura discreta e inerente).

O primeiro lugar onde fui morar em Israel, logo quando cheguei não foi nem em Sderot - que é mais isolada que senador do PSOL - mas num lugar ao lado, mais isolado ainda. Minha primeira visão de Sderot foi de madrugada. Via umas luzes a uns 500 metros de distância. Iluminação pública, lâmpadas de sódio, alaranjadas, e de mercúrio, branco azuladas. Um espectro no limite da visão. "Aquilo ali é a cidade?" - Parecia brincadeira.

No dia seguinte eu vi por detrás da bruma do inverno forte um bairro de edifícios baixos, feios e mal feitos. Eram as luzes que eu tinha visto. Sderot estava uns dois quilômetros adiante, mais feia e desolada ainda.

Uma vez, quando tinha uns dez anos de idade, fui para uma colônia de férias no Rio. Nos levaram para o Projac um dia. Vi uma cidade cenográfica de verdade. Foi exatamente essa a impressão que eu tive da cidade, na primeira vez que estive lá. Parecia maldade de alguém. Havia três opções para se chegar lá. À pé, o que dava mais ou menos meia hora, de ônibus, que levava uns cinco minutos, sem contar a espera de meia hora, e de taxi, que não vinha a ser uma opção.
Desta vez fomos à pé. E à pé voltamos também, com sacos de compras do supermercado. O nomadismo repetiu-se quase uma vez por semana durante esses seis meses porque não havia outro jeito de se fazer compras, e comer era (e ainda vem a ser) uma necessidade.

O forninho elétrico que eu comprei (e o Adrian, meu roomate fez o favor de queimar, pouco tempo depois) foi em Beer-Sheva. Devidamente transportado de ônibus. As panelas também, no dia em que fui ao Ministério do Interior resolver meus papeis e ganhar minha carteira de identidade. Qualquer dia escrevo sobre minha decepção com Beer-Sheva, mas este post é sobre minha decepção com Sderot.

Se a cidade era feia, a região era muito bonita. Uma coleção de colinas cheias de plantações (na maioria girassóis) com pequenas estradinhas de terra para os tratores passarem entre os campos. Estradinhas essas sempre cercadas de enormes eucaliptos (truque inventado nos anos 50 para evitar que os fazendeiros fossem alvos fáceis para os Fadayun que partiam de Gaza para realizar atentados). Quase toda estrada da região parecem túneis por debaixo de árvores.

Quando há a colheita de trigo, outro motivo comum na agricultura da região, as máquinas fazem fardos de palha enormes e deixam os fardos no meio do campo por algum tempo. Durante este tempo, ao se olhar o horizonte e ver esses campos, parece ser uma plantação de cubos gigantes até onde a vista alcança. Sempre que dirijo pela região nesta época do ano tenho a mesma impressão - até hoje.

A vila estudantil em si poderia bem ser uma espécie de hotel. Um monte de casinhas de dois quartos sala-cozinha, uma a dez metros da outra. Cada quarto servia para duas pessoas, em umas caminhas que imediatamente tiravam a noção de "hotel" e passava a ser pouco menos que um albergue. Um albergue franciscano, ainda por cima. Caminha de colchão de espuma super fino, uma mesa e uma cadeira. Ah! Havia um pequeno armário também, para guardar todos os pertences de uma vida inteira a ser começada em Israel.

Eramos uns seis latinos americanos. Eu, a Débora e a irmã, a Andréa, eramos os brasileiros. O Adrian e a Silvia e o David argentinos, juntos comigo naquela casa - e a Carol, na casa das meninas. E mais de quatrocentos russos (que era um nome genérico para qualquer soviético, seja da Ucraina, Bielorrussia, Sibéria, Russia e afins).

Mais de quatrocentos russos.

E nós.

Além de caminhar vários quilômetros por dia afins de ir para nossa aula de hebraico, ou fazer compras, o que mais fazíamos todos os dias?

Como bem há de ser para latinos-americanos, causávamos problemas. Mas descrito o cenário, a ação fica para próximas postagens.

3 comentários:

Adalberto disse...

Muito bom!
Não vejo a hora de ler a continuação.
Acho que todo mundo que já mudou de país com apenas uma mala de roupas teve uma fase assim.
Mas nesses primeiros meses era difícil arranjar uma bicicleta?
No Japão é muito fácil arranjar bicicleta, às vezes você até ganha uma.

Shlomit Or * Luciana Gama disse...

muito bom, Gabriel. Muito bom... Captei um Van Gogh afora as risadas que você me proporcionou! :)

Anônimo disse...

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