sábado, junho 10, 2006

O Brasil existe, supostamente dizendo, é claro, a uns 500 anos. Existe a mais tempo, eu sei. Vários registros fósseis e mineralógicos comprovam o fato. Tem inclusive um índio lá em Cuiabá que afirma ter estado presente naquela época, e é assim testemunha ocular (embora seja cego).

Acontece que antes disso o Brasil tinha outro nome. Não podemos afirmar isso com segurança, afinal esse dado não pode ser extraído de registros fósseis e mineralógicos, nem da cabeça do Índio milenar de Cuiabá. Mas assim supomos nós por motivos de probabilidade: seria surpreendente que o já citado país tivesse então o mesmo nome que tem hoje, mesmo porquê não haviam portugueses, Pedro Álvares nem caravelas (embora o Índio de Cuiaba afirme que – ele sim – estava lá). O que sim havia, e não há hoje, é o tal do Pau Brasil – este também, suponho, com outro nome.

O nome de uma localidade pode nos revelar bastante sobre a história e o povo dali. Por exemplo: Rio De Janeiro. Não é e nunca foi rio, o que mostra como os habitantes são distraídos e avoados. Na verdade, quem deu o nome, e faz tempo, foram os portugas. E eles sim, avoados e distraidos à beça (mas, não creio que seja culpa do Estácio de Sá. O que há de se esperar de um sujeito com nome de escola-de-samba?).

Os portugueses eram pródigos criadores de nome. Bastiões da criatividade ocidental. Vinham os caboclos sequestradores de índios e ficavam para dormir numa clareira. Acordavam e decidiam montar ali um vilarejo. "Que dia é hoje?". "Dia de São Cicrano". E assim chamavam a cidade de acordo com o nome do santo do dia. Sorte nossa que eram católicos, pois se xintoístas fossem, os nomes seriam um tanto mais esdrúxulos e de difícil pronúncia.

Afora os nomes que os portugueses originalíssimos inventavam, haviam os índios, que colaboravam com o nome de suas localidades, ou às vezes, coisas como "pedra onde o sujeito de bigode fez suas necessidades", "lugar para lavar os pés" e afins, mas em tupi-guarani, que era para os caboclos não entenderem.

Bem, Israel existe a apenas 58 anos. Existe a mais, como pode ser comprovado por registros fósseis, etc, e como pode ser devidamente confirmado nas músicas do Raul e vários registros escritos de vários milhares de anos que a massa costuma chamar de Bíblia. Mas como estado, só 57 anos. Estiveram aqui os Turcos-Otomanos, e logo depois da 1ª guerra mundial os ingleses. Os ingleses, inventores da National Geographic Society, decidiram que não podiam controlar uma região inteira sem ter mapas fieis com todas as localidades e seus nomes devidamente catalogados de acordo com o original. Assim subiram em mulas e juntaram um bando de beduínos locais e saíram montanha acima para catalogar o nome dos lugares: "Aqui se chama Aq-Alarbiah". "Ali é Shaid-A-Barduk" e assim por diante.

Inglês é teimoso, mas não é burro. Assim decidiram fazer o impensável (para um inglês, é claro). Pegaram um mapa de certa região e, sem ter os nomes próprios de cada riacho, cada monte, cada várzea, decidiram que não ia dar pé de levar beduíno para passear de graça. Sentaram e começaram a inventar nomes em árabe (ou que parecessem árabe)!

"Essa montanha tem cara de que?", "hum...", pensou Major Thompson coçando o longo bigode. "Tem cara de Al-Qbawa" afirmava no final, categoricamente. O outro que perguntou nem se importava como se escrevia isso. Lascava o nome no mapa e seguia para o próximo riacho. "Aq-Karbawa" disse Col. McDewing, sem ser perguntado. "Esse riacho tem cara de Aq-Karbawa". E assim terminaram os ingleses de mapear a tal da terra prometida.

Depois (na verdade foi durante) dos ingleses vieram os judeus da diáspora para colonizar Israel e em 48 conseguiram independência (partilha da ONU, guerra com 6 países árabes que eram contra a partilha etc...). Então veio a hora de dar nomes em hebraico para os lugares. Alguns lugares eram óbvios, como Monte Megido (Armagedon, no norte) ou Monte Tavor, ou Rio Jordão. Muitos lugares estavam bem descritos na bíblia e inclusive seus nomes já eram corriqueiramente usados. Haviam outros lugares menos óbvios, que necessitavam da ajuda de gente que conhece. Assim, estudiosos do já citado livro foram andando daqui prá lá com vários rascunhos debaixo do braço até encontrarem o tal do lugar "em que a batalha de não-sei-o-que ocorreu". Nem os Turcos-Otomanos nem os Ingleses fizeram muito para modificar o cenário de 3000 anos atrás. A terra parecia mais ou menos a mesma. E vários lugares foram sendo identificados e nomeados dessa maneira.

Outros lugares eram novos. Cidades (como Tel-Aviv, ou Monte Primavera, nome do livreto de Theodor Hertzel onde este escreve sobre sua visão de um país judaico), campos drenados, localidades novas.

Alguns nomes não me fazem muito sentido. Trabalho numa cidade chamada Sderot (avenidas) e moro em uma cidade chamada Rechovot (ruas). No extremo norte tem Kiriat Shmona (Praça dos Oito) e ao lado de Hebron tem Kiriat Arba (Praça dos Quatro). Outros nomes são prosaicos e se bem mal traduzidos poderiam ser nomes de favelas no Rio, como Petach Tikva (Portal da Esperança) ou Rishon Le'Tzion (Primeiros em Sião). Um dos meus preferidos é Rosh Hayin (Cabeça-Olho). Já pensou uma cidade no Brasil com um nome desses?

Há de se convir que tanto os ingleses como os atuais israelenses são muito mais criativos com nomes que os portugueses... mas não tanto quanto os nossos índios tupi-guarani (nem comento a capacidade criativa de certo índio de Cuiabá).

Talvez eu vá chamar minha próxima cidade de "Santo Cabeça-Olho de Itaguamirim-Al-Qwarem"

Um comentário:

Anônimo disse...

Delicioso o texto, Gabriel! E eu que pensei que os brasileiros eram os campeões em materia topônimos esdrúxulos! Este Lula acabou me afetando , mesmo com toda a reserva que olho para ele -e seus discursos!

Abração!