sexta-feira, maio 29, 2009

A discussão é feia, mas não é séria.

Vi uma linda discussão no canal 10 entre Yaaron London e o parlamentar Zvulun Orlev a respeito da tal da lei contra a comemoração do Nakba.

A lei, planejada pelo Yisrael Bethenu, partido do Ivet Lieberman (Ivet é o nome de nascença dele - ele odeia ser chamado assim, e é por isso que uso esse nome :P), diz basicamente que é proibida a manifestação (pública ou privada) com conotações negativas a respeito da criação do Estado de Israel. A lógica é a seguinte: quem vive em um determinado país não deveria ser contra a criação do mesmo. Isso não acontece em parte alguma do mundo.

A discussão que citei foi a seguinte. Yaaron London dizia: "Espere aí, o que vocês querem na verdade é proibir a expressão pessoal. Isso é censura! É uma lei contra as liberdades individuais"

Zvulun Orlev seguia com um mantra de "Queremos caracterizar este país como sendo judaico. No momento em que alguém apresenta-se como sendo contra essa caracterização, está indo contra o próprio fundamento desse país!"

Yaron London começou a ficar cada vez mais nervoso e exigir respostas fora desse mantra: "Mas o senhor quer protocolar em lei a proibição de manifestação! Cada qual com sua opinião! Promulgar uma lei não vai mudar a opinião das pessoas! Daqui a pouco vocês vão querer proibir livros de escritores palestinos e até mesmo judeus questionando o assunto! Não tem limites!"

"Você é contra a caracterização judaica de Israel?" Perguntou o parlamentar Orlev.

"Claro que sou! Mas não por lei! Isso deveria ser um trabalho educacional e democrático, não ditatorial e arbitrário!" Vale lembrar que Yaaron London é considerado bastante direitista e conservador nos meios de comunicação.

Ao seguir a conversa, Zvulun Orlev quis convencer o Yaaron London de que, na verdade, o que se estava fazendo era criando-se uma lei que evitasse que pessoas desenvolvessem um sistema que pudesse cogitar a legitimidade da mera existência de Israel como país.

Seus argumentos foram tão pueris que só deixou o Yaaron London mais e mais nervoso. Até um momento em que acabou o tempo e ele chutou o cara do estúdio com um "muito obrigado ao parlamentar Orlev".

A discussão a este nível entre a população é visível. Nem sequer meus amigos mais religiosos conseguem se manter incólumes frente à peitação dos neo-colonos sobre a lei, sobre o exército, sobre a politica internacional e sobre a vontade da maioria, quando seguem a reerguer outposts nos territórios ocupados.

Pessoalmente acho bom esse tipo de atrito: tira um pouco do verniz de politicamente correto que populações deste tipo carregam em suas justificativas e abre o jogo: "Nós estamos aqui para salvar o caráter judaico de Israel, mesmo que seja contra a lei do país, mesmo que seja contra a ética e a moral dos nossos tempos, mesmo que seja contra a vontade da maioria dos habitantes deste lugar, mesmo que seja a sangue".

O que me impressiona é a passividade dos que não pensam assim (gente pacata e "bundona", como eu), que não toma nenhuma atitude prática. A Tzipi Livni até que tentou dar umas cutucadas e entrevistas, mas não teve a repercussão que merecia neste caso.

Como outras, essa é uma história de vai-e-volta. Não é a primeira nem vai ser a última vez em que leis deste calibre são inseridas na agenda da Knesset. Esse tipo de atitude é desenvolvida para promover um político, um partido e/ou, como neste caso, promover um tipo específico de política.

Em tempos de Obama, a direita religiosa ultra-nacionalista em Israel se encontra em sérios apuros para justificar uma série de atitudes que não podem ser justificadas em uma sociedade ocidental moderna. E cada ponto que conseguirem comprar barato, está valendo. Pelo menos é assim que pensam eles. Não é uma questão de democracia. Não é uma questão de legislação. Neste caso, para boa parte deste pessoal, é uma questão de puro medo e histeria religiosa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei que a lei é idiota, mas é necessário começar a impor limites ao comportamento dos árabes-israelenses. Tudo os ofende e quem vai ficando acuado somos nós. Tzipi Livni começou a fazer discursos aqui e alí, depois que saiu do governo e nada fez quanto à essas mesmas questões. Isso é oposição rasteira. Votei nela e já me arrependi, não esperava dela esse tipo de atitude.
Márcia

Gabriel Paciornik disse...

Marcia, eu tambem votei na oposicao. O partido a qual eu votei anda fazendo bastante barulho, apesar de ser pequeno. Alem de votar contra e fazer barulho, eh sabidamente muito pouco o que um partido que esta na oposicao pode fazer. Por definicao ate. Assim, nao se arrependa tao rapido de ter votado na Tzipora, ainda ha muito a ser feito.

Quanto a impor limites, apenas em carater experimental, fico imaginando o que aconteceria se metade do dinheiro gasto em construir colonias nos territorios ocupados fossem usados para promover educacao nas cidades arabes. Quem sabe dai nao teriamos mais de 60% da populacao arabe nao acreditando no holocausto, por exemplo.